segunda-feira, 8 de março de 2021

Remando aqui e acolá

Até minha aposentadoria só tinha olhos pra atividades esportivas como trek, montanhismo, canionismo, ciclismo e breve passagem pela escalada. Já aposentada, fiquei pensando no que faria nas longas tardes de ócio que tinha pela frente. Conversando com meus botões, concluí que seria bom remar por causa dum certo medinho de água. E das coisas que tenho medo, tipo altura e dirigir, acabo por enfrentar, bem ou mal. Morando em Porto Alegre, localizada à margem esquerda do lago Guaíba, comecei experimentando stand up paddle porém foi relâmpago minha atividade na prancha já que exige muito da lombar, a esta altura da vida, bem baleada, a coitada. Assim, pouca demora, passei a remar caiaque. Tanto gostei que comprei um Pro Fish, sem leme, no final de 2016, estimulada por Jayme Fonseca, professor de vela e remo, que largou a engenharia pra se dedicar aos esportes náuticos. Embora pesadão, este caiaque é adequado aos iniciantes porque difícil de virar, considerando sua excelente estabilidade. Descolei um lugar pra guardá-lo, na guarderia do Peter, dono de um casarão na vila Conceição, lugar super aprazível com amplo jardim repleto de plantas e árvores à beira do Guaíba. Acompanhada de outros remadores, fui num ensolarado sábado de pouco vento à ilha das Pedras Brancas, vulgarmente conhecida como ilha do Presídio, porque durante quase 30 anos serviu como prisão tanto aí presos comuns quanto aos oponentes da ditadura durante o regime militar.


Do edifício restam escombros e 2 guaritas encarapitadas nos topos de 2 enormes matacões, uma ao norte, outra ao sul. Pequena, rochosa, a ilha exibe pequena extensão de mata nativa. É um pequeno oásis no meio do lago. Graças a Deus, ainda não é  explorada turisticamente. Completado o passeio, vi no Strava que a distância ida e volta entre a ilha e a vila Conceição alcançou 6 km. Me senti orgulhosíssima de meu feito, pois até então me limitara a remar no chiqueirinho, o assim chamado trechinho de 1,5 km, distante 50 metros da faixa de areia, compreendido entre a guarderia e o morro do Sabiá. Não demorei muito a me dar conta de que caiaque sem leme é dose pra remar, tem de ter muito muque pra mantê-lo no rumo e como já sou uma senhorinha de ½ idade, fui atrás de algo mais leve. Assim, vendi o caiaque de polietileno e adquiri um de fibra de vidro com leme de pista, um Surf Ski V7 que só não voa na água porque barco não tem asa! Que diferença, santo deus!! Mal comparando, seria como sair dum Fusca e dirigir um Audi. Por óbvio, é caiaque bem menos confiável, no sentido de que se houver muito vento ele vira com facilidade. Mas é só não sair em dias ventosos e não dá nada. E passei a frequentar com assiduidade a guarderia sempre que o tempo permitia, consultando pra isso o WindGuru, site que fornece infos sobre ventos, sua velocidade e direção, usado tanto por surfistas quanto por remadores e velejadores.

Conheci assim a galera que curte esportes náuticos, bem diferente do povo montanhista e ciclista que até então convivera. Remadas a Guaíba, cidade situada na margem oposta do lago, distante 5,5 km, só pra comer pastel. Os 7 km de bate e volta a Ipanema, bairro contíguo à Vila Conceição, curtindo os nervosos biguás que levantam voo mal me aproximava das pedras que afloram à superfície da água. E nunca cansando de admirar a esbeltez das garças pousadas sobre os galhos das árvores plantadas rentes à praia. Às vezes, colocava os fones de ouvido plugados ao celular e escutava músicas de minha preferência enquanto mandava bala nos remos. Nos fins de semana, os barulhentos jet skis riscam o Guaíba enquanto diversos tipos de veleiros singram graciosamente suas águas marrons rumo à Ponta Grossa. Navios indo ou vindo de Rio Grande passam ao largo pelo canal formando ondas em seus deslocamentos. À medida que ia adquirindo confiança, retornei diversas vezes sozinha à ilha do Presídio. Certo domingo, encarei os 15 km ida e volta entre Vila Conceição e Ponta Grossa, bairro também localizado na zona sul da cidade. Há dias que gosto de ir além de Ipanema, remando até os arcos do Espírito Santo. Se tenho tempo estendo o passeio à Serraria. Cansei de contornar a ilha do Jangadeiros, só pra passar sob a pequena ponte que liga o clube ao continente.

Fiz algumas remadas noturnas, algumas na lua cheia. À noite, a iluminação noturna da cidade de Guaíba cintila tal qual um longo colar de pedras coloridas na outra margem do lago. No verão de 2019, conheci o casal Leticia e Ramon que administram, em Barra do Ribeiro, a ONG Biguá, destinada a ensinar crianças e adolescentes a remar. Com eles fiz um bate e volta até Areia Branca, distante 8 km de Barra do Ribeiro. A pequena praia de areias claras é um oásis encravado à margem direita do Guaíba não só pra quem rema quanto pra quem veleja, que ancoram ali seus barcos nos finais de semana. Com Leticia fui fazer um curso de remo no fim de semana, no sítio de Leo Esch, à beira do rio Maquiné. No final de 2019, fui a Rio Grande com meu amigo Pedro Emilio prum encontro de pesca e canoagem. Acampados no Grêmio Náutico Almirante Barroso, fomos super bem recebidos pelos riograndinos, aliás meus conterrâneos. A remada se deu no sábado no estuário da lagoa dos Patos e não rendeu muito porque o vento sudeste castigava os remadores com rajadas de 15 nós. No carnaval de 2020, mais uma vez me uni à galera da Biguá pra realizar uma remada com direito à camping. Guaíba 1 espelho quando saímos de Barra do Ribeiro, se manteve assim até a Ponta do Salgado onde fizemos uma parada pra comer algo e descansar os braços. Depois do Capão das Pedras, assim chamado um amontoado de rochas que afloram à superfície d’água, entrou 1 vento sul de 11 nós que dificultou o restante da remada até nosso destino final, o Saco do Pinho. Acampamos na praia da Faxina, infelizmente suja de detritos deixados por gente mal educada que também costuma acampar no local.

Dia seguinte, remamos de volta a Barra do Ribeiro, parando na Areia Branca pra almoçar. A aventura somou 40 km, e meu carnaval, sambando no caiaque com parceiros muito gente fina, foi qualquer coisa de bom! Depois dessa curta expedição passei adiante o Surf Ski e comprei um oceânico com leme retrátil. Menos veloz que o anterior, exibe, contudo, maior estabilidade, sendo assim mais confiável em dias de vento com velocidade superior a 10 nós, além de ter 2 compartimentos que acomodam tralha pra caramba. Ainda não tive oportunidade de fazer uma expedição mais longa com o Inuit porque chegou a pandemia e botou por terra todos os planos que estava tramando. Tem importância, não, qualquer hora, volto às aventuras náuticas. E com a benção das entidades aquáticas, podicre!!


 

3 comentários:

Silvana disse...

Que máximo !!

Márcio FF disse...

Olá Beatriz, parabéns pelo relato! Moro em Imbé e temos uma turma que rema por aqui, principalmente nas lagoas e canais. Se tiver interesse entre em contato marciobg@gmail.com \0 abraço!

Anônimo disse...

Bia querida!! Que surpresa bacana saber de ti tão ativa e escrevendo tão bem! Beijinho....aqui Silvio Marques (smarques.net)