quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Novamente em Gran Canaria

Quanto mais conheço Gran Canaria mais gosto desta ilha. A um porque minha prima Maria Amalia vive aqui com sua família; a dois porque a ilha é linda com seus variados cenários que ora mesclam paisagens verdejantes ora áridos cenários num relevo montanhoso cercado pelas azuladas águas do Atlântico. Assim, vamos eu e Raul direto de Casablanca pra Las Palmas num voo de pouco mais de 3 horas. Maria Amalia este ano mudou para um sítio motivo por que, em conversa no Whatsapp, quis enviar seu filho Franco ao aeroporto pra nos receber. Consigo a caro custo dissuadi-la, combinando então que ele nos esperará no terminal San Telmo. Fácil de ser avistado, porque é um rapaz muito alto - puxou ao pai, Daniel -, Franco nos avisa que teremos de pegar outro bus que nos deixará a poucas quadras de nosso hostal. E lá vamos nós não sem antes pararmos num super pra comprar bebida e comida. O hostal é destinado pra galera do surfe, daí que 99% dos hóspedes são jovens. Nosso quarto, amplo e bem iluminado, fica no coração da casa, o terraço, onde os hóspedes costumam se reunir ao redor duma comprida mesa seja pra conversar, beber ou comer. O banheiro é compartilhado. Convido Franco pra beber uma copa de vinho. Há que celebrar nosso reencontro. Dia seguinte, vamos eu, Raul mais Richard, um canadense de 50 e tantos anos, dar um rolê na praia de Las Canteras, sentando em bancos de pedra diante do Auditório Alfredo Kraus cuja imensa parede de vidro volta-se pro mar. Ali, ficamos de bobeira, curtindo os surfistas fazendo suas evoluções nas águas azuis do Atlântico. Resolvemos almoçar num dos vários restaurantes que há na avenida Jose Mesa y Lopez, escolhendo dentre o menu do dia um prato típico chamado garbanzada, que vem a ser um ensopado parecido com o mocotó. Dia seguinte, sem Raul, que prefere ficar no hostal, alugo uma bici. Pedalo até San Cristóbal, antigo povoado de marinheiros, pra comer no restaurante Los Botes, famoso por sua culinária. Difícil escolher algo dentre o apetitoso menu, mas me decido por croquetes de espinafre com presunto serrano mais pulpo gallega, regando tais petiscos com vinho da Gran Canaria. O dia está lindo, céu azul e temperatura amena. Como é dia de Reis, 6 de janeiro, feriado na ilha, Daniel e Maria Amalia vêm nos buscar pra conhecer seu sítio Las Hormiguitas, situado no município de Santa Maria de Guia, distante 20 km de Las Palmas. Após rodarmos na GC 2, uma autoestrada à beira mar, enveredamos por estreitas e sinuosas estradas beirando precipícios. Belíssima paisagem até Las Hormiguitas! Amalia está animada, cheia de planos, bem diferente daquela mulher tensa e ansiosa com quem convivi ano passado. Revela que a aposentadoria permite que ponha em prática velho sonho acalentado há anos: o de se tornar uma agricultora. Conhecimento ela tem porque se formou em agronomia mas por circunstâncias alheias a sua vontade foi impossível seguir na profissão. A manhã passa rápido, enquanto curtimos um mate ao ar livre, seguido dum almoço com boa comida caseira feita pelo casal. Como é hábito em lares espanhóis, terminada a refeição, acompanhamos os donos da casa no ritual da sestea. Após a soneca, eles nos levam pra conhecer o parque Natural de Tamadaba, onde ainda há bosques de pinheiros nativos, destacando-se o avantajado Pico de La Bandera. Dali vamos até Agaete, situada no noroeste da ilha, passeando por suas ladeiras emolduradas por casas brancas, muitas delas encimadas por balcões de madeira. Algumas ruas ao entardecer estão ainda iluminadas com motivos natalinos. Descemos à encantadora vila de pescadores de Puerto de Las Nieves, onde se pode saborear peixe fresco junto ao mar. Falésias de rocha escura se prostram diante do mar e não muito distante, avista-se a ilha de Tenerife e o seu emblemático vulcão Teide com 3.718 metros. Dia seguinte, vamos eu, Raul, mais uma argentina, que trabalha no hostal, em sistema de permuta, dar um giro no lado sul da ilha. Pra tanto alugo um carro por dois dias. Pegamos a GC 1, a mesma que leva ao aeroporto, seguindo até a praia de Los Ingleses repleta de apartamentos, condomínios e hotéis todos voltados pra turistada europeia, sobressaindo-se os escandinavos que compram, adoidados, imóveis na Gran Canaria. Curiosa sobre a Reserva Natural Especial das Dunas de Maspalomas, pra lá vamos, estacionando o carro a 3 km de distância de modo a caminhar um pouco pelo calçadão. A reserva tem 404 hectares compreendendo além das dunas, oásis de palmeiras e uma lagoa salobra. Escolho pra conhecer a região das dunas, caminhando por suas douradas e fofas areias. Muita gente indo à praia empunhando guarda-sóis e pranchas de surf enquanto alguns praticam na areia kitesurf orientados por seus instrutores. Um que outro gato pingado posa, discretamente, de nudista aninhado entre cômoros de areia. Nossa próxima visita ainda no sul da ilha é Playa de Mogán. A paisagem até lá é lindamente árida com vários túneis cortando as encostas de montanhas já que esta parte da ilha é super montanhosa. Como várias cidades e vilas da Gran Canaria, as casas são brancas com aberturas coloridas. Tudo muito mediterrâneo. Dia seguinte, sem Raul que prefere ficar no hostal onde já fez várias amizades, pego o carro e acompanhada de Maria Amalia, a quem apelido meu GPS humano, pois conhece a ilha como a palma da mão (aqui vive há 20 anos), vou conhecer o município de Tejeda. A cidade, localizado no centro da ilha, encontra-se aninhada numa depressão vulcânica, rodeada por uma montanha coroada por vários monolitos basálticos, dentre os quais os famosos Roque Nublo e Roque Bentayga. Fazendo jus ao nome, pouco vejo do Roque Nublo porque a neblina obnubila este símbolo de Gran Canaria. Tanto que quando vamos conhecer o Pico de Las Nieves, a segunda montanha mais alta da ilha com 1.956 metros, mal descemos do carro porque além de fazer 4º C baixou uma pesada cerração envolvendo a paisagem. A encantadora Tejeda, além de seguir o padrão de casas pintadas de branco encimadas por balcões de madeira, conta com outro atrativo: amendoeiras. Plantadas ao longo das ruas, as árvores já revelam suas delicadas flores nesta época do ano. A cidade, por isso, é especializada em doces, bolos e biscoitos feitos com esta fruta. Maria Amalia me leva a uma confeitaria pra que eu prove duas iguarias típicas da região: pasta de amêndoas, chamada bienmesabe, e torta também feita com amêndoas. Uma chávena de chá vem a calhar com tais guloseimas! Com esta excursão escoltada pela fina companhia da prima Maria Amalia, encerro minha estadia na Gran Canaria com a certeza de que retornarei, por supuesto!! 

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