quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Pedaladas uruguaias

Na terça, deixamos Colônia com pesar. A encantadora e charmosa cidade bem merece estadia mais longa pero temos de chegar no balneária La Pedrera ainda hoje onde vamos nos aquerenciar durante 8 dias. Situada a 125 km a sudoeste do Brasil, esta pequena praia se recosta sobre um costão rochoso, cordão este que se estende ao longo de todo o litoral uruguaio, tanto o do Atlântico quanto o do rio de La Plata. Uma amureta branca divide o passeio da faixa de areia. Na calçada, bancos de cimento permitem que se curta confortavelmente a orla marítima desde La Paloma, situada ao sul, até Cabo Polônio, mais ao norte. A maioria dos veranistas é predominantemente uruguaia embora se vejam carros com placas argentinas. Aqui em La Pedrera, a invasão argentina pegou leve. Em compensação, no restante do litoral uruguaio, quem domina são los hermanos argentinos. A praia, com mar de tombo, é excelente pro surfe, apesar de não o ser para as longas caminhadas por causa do terreno super desnivelado e da areia fofa e grossa misturada de conchinhas miúdas que machucam os pés se descalços. Por conta disso, se fui à praia três vezes foi muito. No mais, aproveito as manhãs, ora lendo, ora colhendo margaridas, hortênsias e rabos de raposa num terreno baldio perto de casa. De posse dos ramalhetes de flores, distribuo-os nos vasos que há na sala. Aproveito assim bem meu ócio matutino e trato, motivada pelo meu pendor tragolístico, de aprimorar meus dotes de bartender. Resultam saborosas caipirinhas de vodka e rum misturadas com limão e laranja. Salvo o dia em que pedalamos até Cabo Polônio, o sol manteve-se firme e forte, irradiando com gana seu calor durante nossa estadia em terras uruguaias. Nas noites, agradavelmente frescas, as estrelas prenunciam bom tempo pro dia seguinte. Dum modo geral, os motoras respeitam-nos nas duas rodovias por onde pedalamos, as ruta 15 e 10. Somente dois dos pedais foram em chão batido, os demais deslizaram alegres e fáceis sobre o asfalto. Pedalei quase todos os dias, tanto que meu velocímetro contabilizou, desde o primeiro pedal em Livramento, 200 km! O primeiro giro ciclístico que fazemos em La Pedrera é um passeio a La Paloma, distante 12 km. À tarde, depois da siesta, nos tocamos em direção a esse balneário, bem maior que La Pedrera, com amplas avenidas, ruas calçadas e altos edifícios. Vamos até a praia e como não podia deixar de ser subimos os 30 m de escada que conduzem ao topo do lindo farol, cartão postal do lugarejo. No dia seguinte, uma quinta, a cereja do pedal: passeio a Cabo Polônio, que exige que madruguemos. Mal pintara a barra da manhã no horizonte, quando passamos levantando poeira na rua principal. Pra surpresa minha e de Lili, uma pequena multidão de jovens vagueiam pra lá e pra cá, semi-embriagados. Evidente a dificuldade que têm em se despedir da noite e ir pra casa dormir, hehe. O pedal, tranqüilito, pois a Ruta 10 se mostra praticamente livre de tráfego àquela hora do dia. Infelizmente, o tempo não colabora enquanto permanecemos em Cabo Polônio. Chuviscos, céu nublado e vento não tornam nada aprazível nossa estadia na praia que imagino seja, por supuesto, atraente com bom tempo. A centena de casinhas brancas, estilo mediterrâneo, confere um certo quê de despojamento elegante ao lugar. No pedrario em frente ao farol, bandos de lobos marinhos travam um conversê animado entre si. No dia seguinte, apenas eu me animo a pedalar frugais 10 km. O suficiente pra desentorpecer as pernas. Lili prefere ficar em casa descansando e pondo a leitura em dia, que inclui, além dum romance, revistas sobre celebridades do cone sul que eu comprara quando estivéramos em La Paloma. Excelente terapia, magazines tipo Caras, Holas e similares desanuviam de forma notável a cabeça. Ler sobre casais de artistas que se casaram após uma semana de relacionamento, jurando amor eterno porque encontraram sua alma gêmea, restabelece na criatura mais pessimista e incrédula novo alento na humanidade. Recomendo sua leitura, preferencialmente, após as refeições. Por quê? Elementar, meu caro leitor! Graças aos seus assuntos invariavelmente levianos, não há interferências malsãs no processo digestivo. No dia seguinte, vamos pedalar numa zona cuja paisagem assemelha-se um pouco à lunar, em razão de crateras abertas no solo, evidentemente, causadas por algum processo erosivo. Embora o pedal seja curto - não ultrapassa os 12 km – é bem intenso. Tudo por conta duns barrancos que nos obrigam a subir e descer com as bicis no manotaço. Afora isso, a areia fofa faz com que as bicis derrapem pra lá e pra cá. À noite, La Pedrera ferve. Restaurantes e bares cheios. A garotada, sentada ora no meio fio, ora de pé no meio da rua, transmite uma energia vibrante. Artistas de rua exibem-se ao longo da rua principal. Afinal, a noite é uma niña! Na segunda-feira, já com a tarde avançada, Lili e eu decidimos fazer um tour à Laguna de Rocha. Vale a pena pedalar 35 km, misto de asfalto e chão batido, pra conhecê-la. Suas águas mornas convidam ao banho e à contemplação. Vez por outra um pio de pássaro e um longínquo grito de criança quebram o silêncio do lugar. Durante o dia, com sorte e paciência, entre diversas espécies de aves migratórias, se avistam flamingos e cisnes de pescoço negro em busca de alimento, nesta zona permeada de lagunas. Dia seguinte, colocamos as bicis no carro e rumamos pro norte. Almoçamos em Manantiales, sofisticada praia, onde milionários e astros internacionais competem pra ver quem tem a mais espetacular mansão ou quem oferece a melhor festa da temporada. Em passant por Punta del Este, só nós detemos na famosa Casa Pueblo, uma bizarra construção em estilo mediterrâneo, construída por Juan Vilaró, um ícone da pintura abstracionista sulamericana. Retornando sem pressa a La Pedrera, escolhemos Jose Ignácio, prainha gostosa, pra dar a pedalada do dia. Vamos então à Laguna de Garzón onde praticantes de wind surf desfraldam suas velas vermelhas, amarelas e verdes contra o azul do céu. Um fim de tarde perfeito! Na quarta-feira, pé na estrada de novo. Dessa feita, retornando ao Brasil, via Chuí. Assim, fazemos pequenas paradas ao longo do dia, como a navegação no arroio Balizas, embarcadas num pequeno catamarã que nos conduz até a bela propriedade particular onde crescem impressionantes bosques de umbus. Lili e eu retomamos a viagem, almoçando em Castillo, pequena cidade sonolenta com ruas arborizadas pelos onipresentes plátanos. No restaurante La Strada provo uma das melhores refeições da viagem: linguado ao alho. Como queremos chegar ao Chuí ainda a tempo de fazer compras nos free shoppings, o resto da viagem é vapt vutp. Assim, raspamos Punta del Diablo e La Coronilla. Embora La Pedrera seja agitada, é forçoso reconhecer que se trata duma praia charmosa, ao passo que Punta del Diablo deve ter sido estilosa há 20 anos atrás; atualmente, não passa duma praia muvucada, sem grandes atrativos. Já La Coronilla, ah, essa sim, agrada-me muito. Tranqüilita, suas ruas lembram as de uma cidade quase-fantasma: raros carros e transeuntes nas ruas. Claro está que reservamos um tempinho pra entrar no Parque Nacional de Santa Teresa. Este magnífico parque, repleto de atrativos, conta com uma infraestrutura de camping e cabanas, supermercado, restaurante e pronto socorro. Suas trilhas conduzem a praias semi-desertas onde é possível pescar ou surfar. Nas amplas avenidas, delimitadas por palmeiras, bando de pacas passeiam livremente. Neste lugar encantador, faço o último pedal da viagem, atravessando bosques de eucaliptos até alcançar o belo forte, uma construção de granito vermelho, construída no topo duma colina. Hasta la vista Uruguay y que sea temprano!

4 comentários:

Marcia Schorn disse...

vim conhecer seu blog , recentemente fiz o blog conhecendo o Brasil , estou em fase de aprendisagem.
Aceito dica
estou te seguindo

Professora Carla Nogueira disse...

Obrigada Bea pela resposta e pelo incentivo para eu conseguir fazer o trekking Huayhuash. Chegarei em Huaraz 3 dias antes do trekking e pode deixar que farei umas caminhadas por lá...
Bjs
Carla

Anônimo disse...

Ola, farei uma viagem ao Uruguai, no carnaval 2015.
Voce poderia me dizer se da para ir pedalando ate Cabo Polonio, ou apenas nos caminhoes 4x4?
Obrigada

Beatriz disse...

dá pra ir pedalando, sim! mas não pela praia e sim pela ruta 10. vc deixa sua bici no parque, no estacionamento, q tem vigia e vai na boa de caminhã até a vila q dista uns 20 minutos da entrada do parque. mais infos, escreve, por favor pra sankyenator@gmail.com