segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ladeira do Império, o abre-alas de Andaraí

Infelizmente, a segunda-feira amanhece nublada e com cerração....droga. Saímos sem pressa às 10 e 20 da casa de seu Jóia, com Doinha nos guiando ladeira do Império acima numa pernada cuja duração mal ultrapassa 1 hora. A subida, que de longe parecia tenebrosa, revela-se fácil, fácil. A rampa, calçada com pedras polidas até o topo da serra do Ramalho, tem 3,5 km de extensão e sua construção, nos idos de 1940, visou facilitar o acesso das mulas que, nas bruacas, transportavam mercadorias de Andaraí ao vale do Pati e vice-versa. Durante o ascenso, posso admirar, dum lugar chamado mirante, aquilo que ontem curtira lá embaixo: nada mais que o Cachoeirão, encravado entre as serras do Cotiguiba e do Sobradinho. Muito tri essa visão longínqua do portentoso anfiteatro!! Mais adiante o Castelo! É muita pedra....que doidera!! Adoro tudo isso!! E o calor hein? É bom demais!! Clima quente pra mim significa aconchego, hospitalidade climática das boas!! Bueno, quando chegamos ao topo da serra do Ramalho, Doinha que conhece a trilha como a palma da mão, segue por uma estreita estradinha, que só ela percebe no meio daquele matagal. Tem início então a descida até Andaraí. A jovem, que mal completou 18 anos, não conversa comigo tampouco com Marcelo. Não porque seja antipática! Muito pelo contrário. Apenasmente envergonhadíssima, a baianinha, de pernas longas e finas, é pura timidez. Se não dirigíssemos a ela a palavra, a mocinha teria entrado na trilha muda e saído calada. À medida que a manhã escoa, o nuvaredo se dissipa, as brumas se derretem e o dia vai-se tornando límpido que nem os pedacinhos de quartzo branco que vez por outra despontam no solo. Salvo uma que outra nuvem pairando ali e acolá, o céu mantém-se firmemente azul, permitindo que o generoso sol de verão irradie com fartura suas calientes temperaturas sobre a região. A exuberância da mata atlântica cede lugar ao minimalismo e à rudeza dos campos rupestres. A descida pela serra do Ramalho é só alegria. Flores colorem os galhos das árvores. A estradinha coberta de areia branca, em certos trechos, é substituída por amplos lajedos de pedra que confundem quem desconhece o caminho. Perceptível já daqui de cima o alagado de Marimbus, pra mim, é apenas uma poça brilhante, ao passo que do casario de Andaraí já se vêem seus telhados vermelhos, à direita, no horizonte. Merendamos à beira dum córrego. Continuando a pernada, um surpreendente jardim, repleto de candombás e canelas de ema, exibe estonteante floração branca e lilás. Dentre as inúmeras extrusões rochosas, uma com formato de poltrona faz com que eu saque minha câmera do bolso da calça. Peço, então, à tímida Doinha que sente ali. A guria, toda envergonhada, não sabe pra onde dirigir o olhar: se pro lado, se pra frente, se pra baixo ou se pra cima, tão sem jeito a pobre se encontra. E eu só prestando atenção na pedra e na pose dela!! Chegamos às 14 e 30 em Andaraí onde deixamos Doinha na casa que seu Jóia mantém na cidade. Feito isso, fretamos, eu e Marcelo, duas motos, ao custo de 2,50 por pessoa, e lá vamos nós atravessando Andaraí na boleia das motocas, hahaha, num rolê trilegal pela cidadezinha. Repleta de barzinhos com mesas colocadas sob frondosas mangueiras, bem que me dá vontade de parar e bebericar algo gelado. Um monte de gente sentada nas soleiras das portas, com aquela indolência típica dos climas tropicais, joga conversa fora. Depois de deixar a mochila na pousada, Marcelo e eu vamos até a empresa de ônibus comprar passagens até Salvador. Ele vai à noite, eu no dia seguinte, bem cedinho, pois meu vôo de volta pra casa será à tardinha. Depois de bater perna pela rua da Gloria, com Marcelo ao lado, meu instinto avisa que achei o lugar ideal pra almoçar. Chama-se Restaurante da Bila. Especulando o interior da estreita casa, vejo um escuro e comprido corredor que desemboca num pequeno pátio onde, encostadas em paredes caiadas de azul piscina, estão dispostas três mesas de plástico alaranjadas. Um negro bem preto, com a cabeça coberta por um chapéu igualmente escuro, se encontra sentado a uma das mesas. Sem hesitar, comando: “entremos aqui, guri”. Nem se discute que estamos famintos, eu e Marcelo. Afinal já passa há muito das 4 da tarde!! Mas a comida, justiça seja feita, faz por merecer meus elogios!! Bila, uma negona de poucas palavras, quando vê minha cara de fome, marcha até as panelas e, na hora, sapeca na frigideira um frango à passarinha. A pelezinha crocante revela na primeira mordida a carne suculenta que se desmancha na boca. De complemento, a sensível cozinheira, serve um arroz branco bem soltinho, feijão e salada. Depois desse saboroso ranguinho, não tem como não dar uma passadinha na Apolo. Claro está que escolho duas das especialidades da casa. Uma é o sorvete de rapadura, a outra...adivinha? O de cachaça, ô xente! Que pinguça estou me saindo nessa viagem, hahaha!! Mas cá entre nós, vir a Andaraí e não provar o sorvete da Apolo é como ir a Roma e não ver o Papa!

2 comentários:

Paulo Roberto - Parofes disse...

Como são as coisas, eu e Lili estávamos conversando semana passada sobre ir conhecer esse lugar esse ano, fazer uma das travessias, sei lá.
Fogo é chegar lá sem carro, é meio isolado né...

�� disse...

que saudade desse lugar...passei o carnaval ae.vou voltar no proximo