segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Desfrutando Uruguay

Mal retorno a Porto Alegre, depois da pernada de 12 dias, em que conheci recantos encantadores da Chapada Diamantina, estou de partida pra mais uma aventura. Permaneço em Poa, o tempo necessário pra transferir da máquina pro computador fotos e vídeos, organizá-los, nomeá-los e iniciar o esboço das escrevinhações sobre a recente pernada em terras baianas. Aproveito ainda a breve estadia na cidade pra lavar roupa, pagar algumas contas, molhar plantas e três dias depois estou no aeroporto onde pego minha amiga Lili Docinho, que se junta a mim nesta indiada cicloturística ao Uruguai! Assim, sem lenços, com documentos e bicis no suporte traseiro do carro, saímos de Porto ainda dia claro, embora o relógio já marque 20 horas. Bendito horário de verão! Escolho como porta de entrada no país vizinho, Livramento, porque quero conhecer ao vivo e a cores alguém que, como eu, pratica esportes de aventura, curte a natureza e tem também o gosto por escrever: a Miriam Chaudon que reside na cidade limítrofe à uruguaia Rivera. Percebo nesta carioca radicada na zona da campanha há mais de 20 anos, uma vibe de simplicidade e generosidade que vêm despertando minha curiosidade. Pra confirmar se minha percepção, até então adquirida apenasmente do mundinho virtual (trocas de email, mensagens no Face Book e pela leitura de seu blogue), não passa duma ilusão. E conheço a guria!! A conservada e bela cinquentona me espia, alegre, através duns claríssimos olhos azuis. Não dá pra não gostar da meiga pero firme, Miriam! Me conquistou assim que abriu a porta de sua casa! Escolhemos pra almoçar um excelente restaurante, especializado em parrilla, o Lo de Beto, localizado em Rivera. Por deus, o entrecot com alho estava um troço de bom. E a tal da batata frita? Crocantezinha por fora e macia por dentro, a melhor que comi até hoje, sem exagero, gente!! Passamos nós as três praticamente o dia juntas, exceto por um intervalo após o almoço em que o corpo reclamou uma siesta após a lauta refeição. Terminamos o dia no cerro Palomas, pra onde vamos eu e Lili pedalando, enquanto Miriam vai de carro já que é uma sem-bici....ainda! Do topo dessa emblemática elevação, curtimos a vastidão da paisagem pampeana já imersa nas sombras da noite onde os únicos rasgos de claridade são as luzes da cidade e a luz avermelhada duma queimada devastando um campo não muito distante de onde estamos. Por indicação de Miriam, provo o delicioso sorvete da Heladeria Martinez. Aliás, qualquer coisa de bom sorvete uruguaio! Sei lá se pela qualidade do leite ou devido a algum segredo partilhado nacionalmente, todos os que provei, seja o de La Cigalle em Montevideo, o da Arco Iris em Colônia, o da Popi em La Pedrera e, por último, o do cucurucho (cone de biscoito) recheado com yema quemada, comprado na heladeria La Strada, em Castillos, todos me deixaram com água na boca e vontade de “quero mais”. Só não repeti porque o medo de engordar funcionou, graças a deus, como um poderoso freio no pecado da gula. Dia seguinte, seguimos viagem, riscando o asfalto ao longo da planíssima Ruta 5, direto a Montevideo onde chegamos à tardinha. Como as duas avoadas nem tinham se antenado em fazer reservas, batemos com o nariz na porta de vários hotéis, até encontrar um bem furreca, numa transversal da 18 de Julio, onde largamos as malas de qualquer jeito no quarto e, ávidas por exercício, montamos nas magrelas felizes da vida, pedalando pelas quietas calles montevideanas. Nas largas ruas, sombreadas por frondosos plátanos, pouco movimento de carros e transeuntes. Uma tarde, linda, solarenga. Olho pra cima e quando vejo aquele céu, dum azul impecável, suspiro de prazer. Curtir um pedal domingueiro em Montevideo é tudo de bom, gente!! Aconselho!! Guio Lili até a rambla, uma extensa avenida ao longo do rio de La Plata com início na Ciudad Vieja e finalera em Carrasco. Separando o largo passeio da faixa de areia, uma amurada, construída com granito rosado, serve de descanso pra quem quer curtir os últimos reflexos do sol mergulhando seu esplendor amarelo-avermelhado nas águas marrons do rio. A rambla é point obrigatório pra quem deseja conhecer um pouco a alma da cidade. Dezenas de pescadores empunham caniços enquanto, pacientemente, aguardam as fugidias corvinas. Descubro, assim, que a pesca é uma paixão nacional. E o amor paira no ar! Trocando beijos e carícias, jovens exibem seu desejo aos quatro ventos, ao passo que os veteranos casais passam o mate de mão em mão, ora proseando animados, ora em confortável silêncio. Uma festa a rambla, ainda mais quando a estação é o verão e o dia, domingo! Dia seguinte, pegamos a Ruta 1, rodovia que liga a capital à Colônia porque Lili deseja muito conhecer esta linda cidade. Pra variar, não fizemos reserva. Assim, depois do almoço, caminhamos à-toa pelas arborizadas ruas do centro da cidade procurando hotel. Lili descobre um bem charmoso a dois passos do centro histórico. Com um sol de rachar, sem obedecer à siesta, nos tocamos a visitar a parte antiga de Colônia, tombada como patrimônio histórico da humanidade pela UNESCO. Da antiga fortificação fundada pelos portugueses no século XVII, restam belos casarios coloniais bem conservados, transformados alguns em sofisticados restaurantes, outros em charmosas pousadas. Embora o sol estivesse a pino, curto demais passear pelas estreitas vielas engalanadas por arcos de buganvílias em flor. No final de tarde, pegamos as bicis e saracoteamos ao longo da Costanera, larga avenida que bordeja o rio ao longo de 10 km. Um mergulho em suas tépidas águas e depois um merecido espumante geladinho pra coroar o dia enquanto curtimos o sol desaparecer lentamente no rio de La Plata.

Um comentário:

Miriam Chaudon disse...

Amigaaaa!!!! Você é uma pessoa especial! Que bom que veio me conhecer!