quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Overdose de baleias!

O jantar da noite passada, preparado por Julio, um simpaticíssimo uruguaio de ojos azules, dono da pousada Rosa e Canela, foi de arrepiar. Trocentas mis calorias de gostosuras divididas entre pizzas de diversos sabores e canelones recheados com galinha e vegetais, sendo que todas as massas foram feitas pela muñeca de Rulito. De dezembro a março, o hermano retorna à sua terra e lá trabalha como salva-vidas. Ines e eu estamos considerando seriamente a possibilidade de passarmos um par de semanas na costa uruguaia quando o verão chegar. Pra compensar a feiosa manhã, um escândalo o desayuno! Um crocante pão integral, amassado por Rulito, e um fofo bolo de chocolate, batido pela sua incansável e prestativa auxiliar, nos aguardam entre vários outros petiscos na mesa do refeitório. Os guris do Caminhos do Sertão dêm-lhe a azeitar correias embarradas e a fazer pequenos reparos nas bicis antes de nossa partida. Finalmente às 10 desta manhã nublada e úmida, envoltos por um levíssimo chuvisco que insiste em dar o ar de sua sem gracice na atmosfera, botamos as bicis pra rodar. Ainda bem que de vento nem sinal...aleluia!! Assim, pedalando por uma estradinha calombenta, deixamos a praia do Rosa pra trás. A breve pedalada pelas ruazinhas de chão batido dessa famosa praia catarinense, point de descolados e surfistas, conduz a uma enseada com pouco mais de 500 m de extensão, belíssima se sol houvesse, conhecida como praia do Ouvidor. Cruzamos com surfistas que também não se deixam intimidar pelo mau tempo. Paramentados com os usuais macacões de neoprene pretos (por que roupa de surfista é sempre escura, não entendo; afinal, toda aquela atmosfera tão colorida que cerca esses esportistas não vingou em suas vestimentas, é?) e sobraçando suas, aí sim, bem coloridas pranchas, buscam o mar pra praticar seus rolês sobre as ondas. A breve pedalada ao longo do Ouvidor cessa ao atravessarmos uma porteira que franqueia acesso à propriedade da família Werlang, responsável pela criação do Gaia Village, projeto inspirado nas idéias modernésimas do ambientalista gaúcho José Lutzemberg. No espaço de mais de 500 ha, vem sendo implantado um louvável trabalho de assentamento humano sustentável que envolve parcerias com a comunidade local, organizações não-governamentais e governamentais. Um deles consiste em substituir por plantas nativas as exóticas casuarinas, pinus e eucaliptos, plantados na década de 70, a fim de conter o avanço das dunas. Somos acolhidos na sede social com um chá quentinho de alecrim. Um conforto poder bebericá-lo (todos têm suas roupas mais ou menos úmidas da incessante garoa), enquanto o coordenador do projeto, Dolizete Zilli, discorre sobre soluções de preservação ambiental. Bastam essencialmente boa vontade e solidariedade da comunidade. Algumas bem simples e outras nem tão dispendiosas como se poderia imaginar. Um exemplo? O transporte de antigas e abandonadas casas de madeira até o Gaia Village e sua restauração, de modo a servir não só de residência aos moradores do projeto como de memória histórica de variados estilos arquitetônicos. Encerrada a palestra, percebemos que a chuva, até então um chuvisco suportável, engrossou mesmo, fazendo com que a maioria dos ciclistas prefira ir de ônibus até Garopaba, salvo os destemidos Marcelo, Denis e Lili que resolvem enfrentar mais 12 km de estrada. O odômetro acusa um percurso de singelos 15 km de pedal. Tudo por causa desta merda de chuva que não tá permitindo grandes pedaladas!! Merrrdaaa!! Ao chegarmos em Garopaba, o grupo se divide. Alguns permanecem em terra firme ao passo que outros escolhem a navegação de avistagem das baleias. Claro está que sou uma das primeiras a aderir ao programa e embrulhados em vistosas roupas de borracha amarela, embarcamos na lancha que navega por uma hora e meia ao longo da costa de Garopaba e de Siriú onde avistamos diversas baleias e - a atração principal da tarde - um filhote dando cambalhotas pra fora d’água. Rememoro deliciosas curiosidades sobre estes colossos obtidas durante breve conversa com os biólogos do Projeto Baleia Franca. A mais apimentada é a “galante” postura do macho após o nascimento de seu herdeiro, se mandando, rapidamente, de volta à Antártida. Familiar esta atitude “solidária”, não é mesmo? E olha só, nem muito tempo elas permanecem no litoral catarinense após darem a luz: apenas um breve período de 6 meses, compreendendo junho a novembro. O suficiente pra alimentar seu filhote e prepará-lo para o longo retorno ao gélido lar antártico. Sabe você quantos litros de leite são necessários por dia para alimentar a cria? 200!! Impropriamente chamada amamentação, o leite, um líquido espesso igual manteiga, é esguichado n’água e daí, sim, sugado pelo bebê baleia. Em número de duzentas, apenas na mandíbula superior, as barbatanas (que vêm a ser os dentes destes animais) são formadas por placas de queratina solidificada. No final das compridas placas há cerdas tipo piaçava que funcionam como rede para pescar os minúsculos crustáceos, conhecidos como krill, já que seu esôfago, do tamanho duma laranja, só lhe permite ingerir pequenas porções de alimentos. E pensar que sua boca é tãããooo grande. Nada a ver o cu com as calças como dizia minha querida vovó! Me dou conta, então, de que uma lenda cai por terra. A do Pinóquio. Nunquinha que ele, seu pai e toda aquela mobília poderiam ter sido engolidos pela tal baleia....sniiifff. É duro quando ilusões infantis são despedaçadas pelo desapiedado rigor científico. Juro que prefiro às vezes ser ignorante porém feliz!! Chegamos na praia de Siriú, ingloriamente, de ônibus, e não pedalando como desejaríamos, tudo por causa do mau tempo. Acomodadas as três num amplo alojamento, decidimos eu e Lili dormir juntas na cama de casal, como já fizéramos no Rosa, deixando a cama de solteira pra Ines. Ali, começo a me divertir muito com a pesquisadora da USP, senhora de trocentos doutorados. Definitivamente, ela não se encaixa nadica de nada naquele perfil de cientista séria e formal que o cinema adora apresentar. Tá mais pra aquele personagem do Darín no filme Conto Chinês, hehe. Sem muita paciência com os politicamente corretos, vibra quando eu solto os meus “vai tomá no cu”, ditos, é claro, com justíssima causa. Consegue ter menos papas na língua que eu! Arranca-me ruidosas gargalhas com suas críticas desaforadas. Lili Docinho só sorri quando nos vê em ação. Um dos episódios hilários protagonizados por Ines foi quando lhe ofereci o horripilante vinho que o nojento, antipaticíssimo e cheio de má vontade dono da pousada do Taxo, o tal de Nacho (será que é pra rimar?) me serviu. Cheirando o vinho antes de bebê-lo, ela revirou os olhos e torceu a boca num trejeito de menosprezo, sentenciando em alto e bom som um “putaqueospariu”. Sem titubear, convidou Lili pra beber cerveja com ela. E passamos a refeição toda num conversê animado, pontuado por risadas estrepitosas, saboreando o prazer de volta e meia falar mal do tal Nacho e de seu vinho ordinário. Alta camaradagem rolando entre nós três. Tudo de bom esta vida, não é mesmo?

4 comentários:

Paulo Roberto - Parofes disse...

Nossa Bea eu tenho um episódio medonho de baleias...rs
Certa vez estava em Itaipuassú no RJ nadando na praia e eu e um amigo vimos baleias se aproximando demais da praia, ficamos com medo e saímos. Depois de 1 hora chegou um carro da globo e começou a filmar, eram orcas!!! kkkkkk...

Beatriz disse...

lastimo te desiludir, orca não é baleia, é golfinho (viu como tou sabidona depois desse pedal?. em geral ficam perto da costa, portanto, somos nós q invadimos seu espaço.

Paulo Roberto - Parofes disse...

Hmmm dessa eu não sabia!

Miriam Chaudon disse...

Hehehehe! Itaipuaçú!!! Lá na minha cidade linda...conheço bem estes lugares. E uma certa vez indo de barco até as Ilhas Maricás, em alto mar, nos acompanharam os golfinhos orcas, como nos disse a Bea(eu também não sabia que não eram baleias,hehe) até chegarmos em Maricá. Uma beleza de companhia! Lindo de vê-los!
Beijos Bea!