sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Bijajica

Siriú, de todos os lugares que visitamos até agora, é o menor e o menos charmoso. Claro está que o tempo, só mostrando má feição desde 4ª feira, não coopera muito. Amanhecemos com a indefectível garoa que deixa o pequeno vilarejo mais cinzento e sem graça ainda. Por isso, a breve caminhada da pousada até a beira da praia, após o desjejum, percorrendo uma estradinha de areia clara, sulcada por poças d’água, não me arranca olhar algum de admiração. A não mais de 100 m do passeio de cimento, construído quase à beira-mar, avistamos novas baleias com seus filhotes. Pois não é que nosso grupo tem também um filhote? Esse filhote é uma criaturinha, medindo, ao contrário das baleias, ínfimos 80 cm. Mas é mais velho que todos os bebês baleias que nadam ao longo da costa catarinense!! Sim, Chicão já tem 2 anos e um andar ainda levemente trôpego, consequência de sua tenra idade. Garboso, empunha um mini-guarda-chuva. Quando se dá conta de que sua mamãe se distanciou um pouco dele, meio que choramingando, corre com aqueles passinhos curtos ao encalço dela. Envergando um capacete amarelo, o adorável mandinho, acomodado numa cadeirinha apropriadamente atarraxada na traseira da bici da mãe, causa sensação por onde passa. Vez por outra age como um pentelho, chorando e emitindo aqueles gritinhos agudos, que dá gana de cortar as cordas vocais de todos os infantes do planeta, porém seu lado parceiro o redime desses faniquitos. Junto com Dani, a mãe do piá, estão Camila e Tati. As três, além de amigas, são sócias numa agência paranaense, a Gondwana Brasil Ecoturismo. Mega especializada, entre seus diversos roteiros, oferece ainda tours para fotógrafos, sejam amadores ou profissionais. Entroso super bem com Dani, ainda mais quando fico sabendo que escala também. E vibro com seu convite, incitando-me a visitá-la em Curitiba pra fazermos o Marumbi. Ao sairmos de Siriú, há que se enfrentar um aclive de 1,5 km bem pesado. Eu, Sid e Thiago subimos a pé a tal lomba. Ainda não estamos com toda essa bola pra enfrentá-la no pedalito. Entre risadas, a breve pernada morro acima transcorreu super agradável, permitindo-me assim conhecer melhor esses dois paulistas, vegetarianos de carteirinha, trigente boa. E olha que no primeiro dia eu não tinha ido muito com a cara de Thiago, hehe. Reencontramos o restante dos colegas pedalantes mais o ônibus com o reboque das bicis nos esperando no topo da colina. A bela vista melhor se destacaria se tão nublado o dia não estivesse. Mesmo assim um encanto a lagoinha em forma de coração e, já despontando, ao norte, a praia da Pinheira e a ponta sul da ilha de Floripa. Mas como tudo que sobe desce, temos agora pela frente um belo declive. Percorrendo uma estrada enlameada pra caramba que só se torna plana um pouco antes do asfalto da BR 101, chegamos ao município de Paulo Lopes. A essa altura, todos estão respingadíssimos de lama. Quem teve a ingenuidade de usar camiseta branca não precisou de muito tempo pra perceber quão furada fora a escolha de tal cor, hehe. Pra alcançar o outro lado de Paulo Lopes, temos de atravessar a BR 101. Após 10 minutos de pedal, já fora do perímetro urbano, estamos percorrendo uma deliciosa estradinha ladeada de eucaliptos. Duas fortes subidas me obrigam a levar a bici na mão...arghhh!! Ainda tenho muito que treinar pra conseguir subir sem ter de carregar a magrela no manotaço! O pior, ao meu ver, são as descidas pedalando por uma estrada que se tornou mais esburacada ainda pela chuva que vem castigando o estado há 4 dias. Depois de pedalar uns 3 km, somos obrigados a dar meia-volta, volver. Tudo porque um trecho da estrada se encontra tão mas tão alagado que seríamos forçados a carregar as bicis na mão devido ao alto nível das águas. Do alto da colina a paisagem é desoladora: terrenos alagados a perder de vista. Retornamos ao centro urbano de Paulo Lopes, e, assim somos obrigados a enfrentar a BR 101, na contra-mão, pelo acostamento pra alcançar nosso próximo destino. Ao passar por nós, os tais caminhões cegonheiros com 25 m de comprimento deslocam o ar de tal modo que parecem aqueles ventos de rajada super fortes, desestabilizando as bicis momentaneamente. Instantes tensos esses 20 minutos de pedal na rodovia com os caminhoneiros buzinando sem parar. Eu apertei o fiofó, juro! Abandonando a BR (aleluia), dobramos à esquerda, numa estrada de chão batido, tudo para conhecer um engenho de farinha de mandioca, chamado Das 3 Irmãs, situado em 3 Barras, distrito de Palhoça. No interior da humilde casa de madeira, as irmãs Nascimento, Vilma, Inácia e Maura, tocam o negócio herdado dos pais. Da farinha da mandioca fazem e vendem bijus, cuscus e bijajica. Este último quitute vem a ser um bolo feito com farinha de mandioca e amendoim moído, assado em banho-maria. Numa grande mesa, café, suco de maracujá, bolo de banana e outros petiscos são postos a nossa disposição. E sem aviso, o barulhão de bátegas de chuva desaba forte sobre o telhado, fazendo cair por terra nosso plano de continuar pedalando até a Guarda do Embaú. É daquelas chuvas a fudê! Que merrrda!! Revolto-me. Não é possível!! São Pedro, definitivamente, está armando contra nós, porra!! Contudo nem bem terminado o lanche, a grossa pancada d’água, aleluia, pára, e o vento sul que mandara a chuva pro quinto dos infernos sopra em nosso desfavor, dificultando em muito a pedalada. Dureza pedalar contra o vento. Já nem sei o que é pior. Se o chuvisco que nos acompanhou durante quase 3 dias ou se essa ventania chatérrima. Sou obrigada a pôr marcha leve pra dirigir melhor a bici. Tamanha a força empregada no pedal que mais parece que estou a subir uma lomba, putz grila. Ainda bem que a estrada de chão batido, bem compactada, apresenta razoável estado de conservação. Após cruzarmos mais uma vez a BR 101, entramos na estrada que conduz à praia da Pinheira. E, aleluia, conseguimos, assim, escapar do vento sul, porque nosso destino agora é simbora leste. A estradinha que dá acesso às praias da Guarda do Embaú e da Pinheira é bem ruim pra quem pedala. Coberta de paralelepípedos, é mega trepidante atormentando tanto as genitálias masculinas quanto as femininas. E dale hipoglós quando se chega na pousada, pra curar bumbuns, pererecas, pintos e sacos assados, hehe. Afinal, hoje a pegada não foi tão leve assim: 35 km de puro chão batido, exceto o curto trecho de asfalto da BR 101. De banho tomado, Dani e eu resolvemos comprar vinho. Chicão, que não larga a mãe nem pra tossir, nos acompanha até a vila da Guarda onde há supermercado. Compramos 2 garrafas. E assim, entre goladas de vinho, o jantar transcorre super animado. Afinal, a essa altura, todo mundo já está bem entrosado e as brincadeiras são muitas. Quando estou indo pro quarto, a lua quase cheia, ainda meio embaçada por algumas nuvens, dá pinta no céu. E a pergunta que não quer calar se impõe: será que amanhã vai ter tempo bom?! Oxalá, assim seja, meu bom jesus cristinho! Por favor, pleaaaseeee!!!

3 comentários:

sidleal disse...

"... pedalando sem as duas mãos no guidão e ainda filmando." hehehehehe... muito boa :-)

Igui disse...

Bia eu já tinha me esquecido da pedalada na contra-mão da BR!!! Que pesadelo aquilo, com todos os caminhoneiros buzinando!!! Os relatos até o momento vêm vindo todos cinzas...tchan tchan tchan!! Aparecerá o tão desejado sol??? Aguardando o próximo capítulo!

Miriam Chaudon disse...

Hummmm.....acho que eu ia gostar da tal bijajica!