Antes de viajar para Torres del Paine, onde pretendo terminar meu trek ao redor desse parque (fiz a parte da frente, chamada circuito W, em 2007), fiquei dois dias com meu filho no Rio de Janeiro. Assim, no sábado e domingo, curti o carnaval carioca e seus inúmeros blocos e cordões. Meu primeiro carnaval na cidade maravilhosa, pode?! E olha que tô com 56 anos. Sábado, fomos à Gávea participar do bloco Escangalha. Uma muvuca muito arretada. Almoçamos num dos restaurantes que há no entorno da praça Santos Dumont, ponto de concentração da banda. Aos poucos vão chegando os foliões. Todo mundo fantasiado, nem que seja com um colar havaiano pendurado no pescoço, lantejoulas brilhando no rosto ou um chapeuzinho maneiro cobrindo a cabeça. Há gente de todas as idades: de velhos a nenês em carrinhos empurrados por seus pais. O carioca traz, desde o berço, o amor ao carnaval. À tardinha, já em casa, no Flamengo, escutei uma sonzeira irresistível de tambores vinda da rua. Convido Anelise, minha nora, e descemos em desabalada corrida pelas escadas do prédio. E lá vamos nós pulando no cordão do Cachorro Cansado. Muito, muito tri essa energia que rola entre as pessoas. Domingo, um passeio até o Recreio dos Bandeirantes mas a praia suja e lotada nos afugentou. A noite, em casa, a batucada me puxou pra rua outra vez, e, assim, eis-me de novo pulando no mesmo cordão do dia anterior. Segunda-feira, então, peguei o vôo das 8 da manhã pra Santiago onde cheguei às 13 horas. Tanto calor quanto no Rio, coisa de 35º C. Caminhei de lá pra cá, de cá pra lá pelo aeroporto, num entra e sai em lojas além de jogar ao celular intermináveis partidas de Galaxy Ball. Telefonei pro Hostal Terra Sur, em Punta Arenas, reservando um quarto para passar a noite. Às 18, finalmente, embarquei, chegando em Punta Arenas às 22:30. Deixei a mala no hostal e, como já conhecia a cidade, caminhei três quarteirões pela calle Bernard O’Higgins - a mesma onde se localiza o hostal - onde sabia haver bons restaurantes. Entrei num de aspecto acolhedor e lá saboreei um excelente congrio com legumes. Uma taça de vinho tinto, por supuesto, não faria mal algum pra avivar o sabor do peixe. Hoje, terça-feira, 8:30 da matina, já estou sentada à janela do Buses Pacheco, bem pimpona, rumo Puerto Natales. O dia fresco e um pouco ventoso, alterna momentos nublados e ensolarados. Chego em Natales e rumo célere, depois de deixar minha bagagem no Hotel Florence Dixie, até a loja de meu amigo Rodrigo. Este cara é um barato. Leva a vida de modo alternativo, um remanescente da geração hippie. Dorme num mezanino construído num canto da loja, espaço reduzidíssimo, forrado de peles de carneiro, um verdadeiro ninho. Pra se subir até lá, uma aventura! Um pássaro, esse Rodrigo. Contentes pelo reencontro, abraçamo-nos afetuosamente. Batemos um rápido papo porque preciso ir à agência Chile Nativo pagar o trek. Em lá chegando, fico conhecendo quem será meu guia. Desta feita, uma mulher. Não fico lá muito contente, contudo não demonstro....será preconceito? Guardo pra mim que os homens, inegavelmente, são mais fortes fisicamente caso eu precise ser, sei lá, resgatada numa situação de perigo. Conversamos sobre assuntos referentes ao trek, e logo estou de volta à loja de Rodrigo, em cuja companhia desfruta as férias escolares seu filhote, Joaquim, de 7 anos. Vamos, então, os três almoçar no restaurante Casa Magna, mais conhecido como El Bote, devido a um caiaque enfeitando a calçada. A comida, caseira, é boa e barata: pão quentinho e molho de pebre, sopa de legumes, ensopado de carneiro com batatas e arroz de leite. Terminada a refeição, entramos na incrível camioneta Chevrolet 1977, adquirida por Rodrigo após eu tê-lo conhecido em 2007. Leva-me pra conhecer seu terreno, distante 10 km da cidade. Na propriedade, com uma bela vista do cerro Dorotea e do Seño Ultima Esperanza, será construído um museu cujo principal atrativo será a exposição de pedras, conta-me ele orgulhoso. Voltamos pra cidade e vou pro hotel descansar um pouco. Sinto meu nariz congestionando-se e um latejar no lado direito da fronte. Só falta ser um resfriado ou, pior, uma sinusite. Dou uma banda pela cidade, e passo, antes de dormir, mais uma vez na loja de Rodrigo. Lá se encontra Madalena, uma polonesa e seu filhinho, Diego, que brinca com Joaquim. A moça trabalha como guia e fala um espanhol fluente, o que facilita a conversa. Começa a chover. “Acá en Patagônia”, observa Rodrigo, “el clima es así.” A temperatura é de 6º C. Muito legal estar de volta a Puerto Natales e reencontrar um amigo.
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