segunda-feira, 21 de abril de 2008

Lunes

Ciente mais ou menos onde se localiza o Palácio Legislativo, sigo pela avenida 18 de Julho e, quando chego na Plaza Entrevero, pergunto a um guarda qual o melhor caminho até lá. Ele indica, dobro então por uma rua perpendicular à avenida, aproveitando para fotografar e filmar um prédio ultramoderno que lembra aquele famoso hotel em Dubai com formato de vela. Ao final da rua, já no bairro de La Aguada, próximo ao porto, avisto um enorme prédio em arenito rosa, lindo, porém abandonado. Uma lástima. É a Estación Central General Artigas, terminal ferrocarril construído no final do século XIX e desativado em 2003. Gostaria de fotografá-la com mais vagar porém o relógio acusa: faltam 10 minutos pras 11. A estas alturas, o meu “excelente” senso de direção já dá sinais de alarme. Afinal, queria ir pro Palácio Legislativo e dou com os costados na Estação de Trens....humpf!! Apuro o passo e pergunto a um transeunte “una información, señor, dónde se queda el Palácio Legislativo, por favor?” Atencioso, ele indica a direção correta, não mais que 5 quarteirões. Percorro a avenida General Lavalleja e, finalmente, eis o congresso uruguaio bem a minha frente. Meus amigos chegam justo quando alcanço a porta de entrada. Somos informados que a próxima visita, guiada, só iniciará ao meio dia. Como, ainda, temos uma espera de quase uma hora, buscamos um café pra passar o tempo e beber algo. No restaurante, nos atende um amável garçom cuja aparência indica já ter passado dos 60, o que me leva a refletir que, ao contrário do Brasil, onde quem tem mais de 50 anos dificilmente consegue emprego, já que atualmente nosso mercado de trabalha prestigia quase que exclusivamente os jovens, aqui, o pessoal de meia idade ainda é valorizado. Retornamos ao Palácio Legislativo, um majestoso edifício em estilo neoclássico, construído no início do século passado, exibindo imponentes colunas em sua fachada central. No grandioso salão de Los Pasos Perdidos, as paredes construídas em mármores (51 variedades, extraídos de jazidas nativas) impressionam pela riqueza de sua coloração verde, rosa, cinza e branca. Clarabóias e janelas dão um show revelando esmerados desenhos nos vitrais coloridos. O prédio é vetusto como convém a uma casa donde emanam as leis. Amplos corredores deixam entrever quatro pátios internos em cujas paredes destacam-se pinturas em baixo relevo. Inobstante a ação da chuva já as tenha descolorido, percebe-se ainda uma leve tonalidade avermelhada sobre alguns frisos. A educada guia conduz nosso pequeno grupo (apenas nós três) aos salões onde se localizam a Câmara dos Deputados e o Senado. Pesados móveis antigos. Tudo muito sóbrio, escuro. Entramos na biblioteca, uma sala retangular rodeada de armários envidraçados contendo milhares de preciosos exemplares de livros. Após a visita, decidimos fazer compras e escolhemos o Shopping Punta Carretas, construído onde, anteriormente, existira a sede de um presídio. Procuro algumas lojas especializadas em vestuário de montanhismo, embora haja duas, a Rock Ford e a Columbia, nada me agrada em nenhuma delas. Despeço-me de Claudia e Fernando, combinando um encontro no Dom Peperone à noite. Pego um táxi e resolvo almoçar, no mercado, novamente, mesmo já passando das quatro da tarde. O dia está lindo, a temperatura morna, na medida certa. Peço ao motorista, um jovem de lindos olhos azuis, que me deixe na Plaza Independência, assim posso ir caminhando até o mercado. Contorno a encantadora Plaza Zabala, cercada de gradis de ferro, onde em frente se localiza o Palácio Taranco, antiga mansão de uma ilustre família montevideana, ocupando um quarteirão e hoje transformada em museu. Ando mais um pouco e logo avisto o mercado. Construído originalmente para sediar o comércio de carnes, pescados, legumes e produtos hortifrutigranjeiros, aos poucos, transformou-se o antigo entreposto neste famoso centro gastronômico e ponto turístico obrigatório da cidade. Provavelmente, graças à idéia de algum inquieto comerciante que, enjoado de só vender carne in natura, resolveu grelhá-la, acrescentando um pimentãozinho aqui, uma cebolita ali, e quiçá um naquinho de queijo derretido pra servir de antepasto. Entro e o ambiente é totalmente diverso do de sábado: praticamente vazio, há meia dúzia de gatos pingados que, como eu, também almoçam tardiamente. Aproveito pra curtir detalhes que ainda não percebera, distraída que fora pela algazarra festiva do fim de semana. Peço um assado de tiras, salada de tomates com cebola e queijo provolone. Pra beber uma taça de médio médio. Saciada, busco pra tomar café outro lugar, e escolho um do lado de fora, em frente ao monstruoso prédio do Comando General de la Armada. Avisto, de onde estou sentada, a tabuleta do famoso restaurante El Palenque cujo atrativo são os pernis de presunto serrano pendurados de ganchos pendentes sobre o balcão. Pago a conta e rumo em direção à rambla. Sinto que o entardecer promete um lindo pôr do sol. Espero o sol quase sumir na linha do horizonte até que reste apenas uma pequena bola cor de laranja. Começo a filmar e a fotografar. Sem lentes especiais e rebatedores - afinal, sou uma mera amadora com uma câmera digital simplezinha - tenho de esperar o momento adequado de modo a evitar os desagradáveis efeitos dos raios do sol refletindo direto na lente da máquina. Sento na amurada e penso ah....que feriado!!

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