Super saudosa de Mariatu e Bibi, minha afilhada, decido ir a Portugal pra comemorar o niver de 6 anos da pequena. Como Mariatu mora na Guarda, compro o voo Brasília-Porto, já que a distância entre as cidades é de apenas 220 km. Com conexão em Lisboa, os trâmites de entrada na União Europeia são ali feitos. Decorrida quase uma hora na fila e já aflita pois a hora de embarque do voo ao Porto é iminente, resolvo falar com um funcionário da TAP pra
que ele me dê preferência na fila de obtenção do visto. Qual não foi minha surpresa quando a funcionária pergunta se tenho uma carta-convite da minha amiga para visitá-la. Depois de algum conversê, tento argumentar que não tenho e nem pretendo morar no país. E ela, sem dó algum, lasca "muita gente da sua idade vem cá tentar a morar". Quando vou mostrar a passagem de volta, ela resolve carimbar o passaporte e deixar eu passar....filha duma égua!! Suando frio com medo de perder o voo, corro pelos corredores do aeroporto - por sinal bem mal sinalizado - e chego a tempo no portão de embarque graças ao atraso da aeronave....dessa feita, bendito atraso!! Orientada por Mariatu, quando chego no Porto, pego um autobus que demora 3 horas e meia até a Guarda. Vou curtindo a paisagem e as diversas cidades que se localizam ao
longo das ótimas rodovias. Solange, amiga de Mariatu, também guinense, me espera na estação de camionagem (rodoviária) e carrega, gentilmente, minha malinha minion. Atualmente, viajo na tarifa básica que inclui a tal mala de 10 kg mais uma mochila de 2 kg. Bom demais encontrar minha comadre que carrega, no colo, Gaudencio, seu bebezinho de 2 meses e meio. Fez pra me esperar bacalhau à Gomes de Sá e pergunta se quero vinho branco ou tinto, sabedora de como gosto desta bebida. Pensou em tudo a querida comadre. Bibi está no colégio e lá vamos nós buscá-la. Ela fica radiante quando me vê, abraços e beijos são trocados com ardor. Todo o tempo que passei na Guarda, busco Bibi no colégio à tardinha (o ensino no país é em tempo integral) e sempre ela me presenteia com desenhos que faz durante a aula. No dia do
niver de Bibi (o nome dela é Beatriz, em minha homenagem, mas eu a chamo de Bibi porque me soa estranho chamá-la por meu nome), vamos ao cinema ver um desenho animado, regado a pipocas e refri no shopping La Vie, o único da cidade. Ela faz 6 anos!! Santo deus, como o tempo passa rápido! Lembro bem do dia em que ela nasceu: seu gritero poderoso ao ser retirada do útero materno ecoava pelo corredor da maternidade do Hospital Femina. Agora está uma menina alta, magra, falante, esperta, alegre e agitada. Carinhosa me acorda com beijinhos e me chama de Dinda Bibi. A festa, entretanto, é comemorado no sábado, e seu pai, Jean, vem comprando bebidas e comida já faz alguns dias para oferecer aos convidados. Na sexta, quando ele chega do serviço, fica na cozinha preparando as carnes com ajuda de Solange e Mariatu. Ele gosta de cozinhar e faz ranguinhos saborosos. Minha ajuda se limita a encher minha taça e o copo de Jean de vinho. Ambos gostamos dum vinhote, pois pois. Vamos deitar passada 1/2 noite e durante a manhã de sábado até a hora da festa, marcada pras 16 horas, o movimento na cozinha é intenso, com Jean assando carnes e galinhas. Guinenses sabem fazer uma festa!! O niver é um sucesso com
a presença de amigos do casal, todos da comunidade guinense. Bibi vestida de princesa brincou com os amiguinhos e ganhou muiitooos presentes, abertos na manhã de domingo.
Durante a primeira semana na Guarda, houve uma reunião muito agradável com 3 amigas de Mariatu: Laída, a + velha, 42 anos, Solange, estudante, e Sonia, dona de salão de beleza cuja especialidade é fazer tranças com cabelo artificial ou humano, estilo preferido das africanas. O gritero explode qdo começamos a falar sobre sexo. Há uma pequena catarse, especialmente, com Laída, presa aos dogmas sombrios do catolicismo. Bom extravasar sensações reprimidas hein!! Lá pelas tantas desandam a falar criolo, uma mistura de português e idiomas africanos. Intuo que conversam, principalmente, a respeito de seus homens, aconselhando-se umas as outras, em segundo lugar, o papo é sobre filhos. Bueno, a Guarda, fundada em 1199, fica na encosta da serra da Estrela, fincada a 1.056 m de altitude, daí ser a cidade mais alta de Portugal. Cheia de altos e baixos exige muito das pernas ao caminhar e as dos ciclistas ao pedalar. Num de meus passeios, venho a conhecer o
Parque da Saúde, complexo hospitalar rodeado por um jardim imenso onde abundam árvores como cipestres, pinheiros, castanheiras e sequoias. Construído no início do século passado, o antigo sanatório Souza Martins visava o tratamento da tuberculose porque, à época, acreditava-se que a altitude ajudava a curar tal doença. Restam, uma pena, apenas ruínas de alguns pavilhões. Abriga ainda o parque a sede da primeira rádio portuguesa, a rádio Altitude. Na entrada, à direita um magnífico fontanário em estilo barroco. Atualmente, houve o acréscimo de esculturas modernas espalhadas entre as árvores. A Guarda, como toda cidade da Idade Média, era murada visando assim se proteger do ataque dos inimigos. Para entrar na cidadela havia 5 portas, restando nos dias de hoje apenas 3: a do Sol, del Rei e da Erva. Bem cuidada, a Guarda tem um centro histórico com prédios bem conservados, destacando-se a Catedral da Sé, as Torres de Menagem e dos Ferreiros, além das estreitas ruelas sinuosas onde o sol mal
penetra, exibindo casas feitas com granito, material abundante na região. Trato de conhecer a catedral da Sé, em estilo gótico, e "escalo" a tortuosa e íngreme escada que conduz aos seus terraços donde se pode admirar os campos ao redor da cidade. A seguir dou um pulinho até a Torre de Menagem, prédio quadradão que se destaca não pelo estilo arquitetônico mas por estar encarapitado no alto duma colina. Por acaso, descubro um atalho onde são cultivadas hortas comunitárias com suas reluzentes hortaliças. Sentar ao final da caminhada no modesto Café Tasca, na praça Luís de Camões, defronte à Sé, pra tomar um café ou uma taça de vinho, curtindo a fachada em tromp l'oeil duma casa abandonada ou observando as variações de cenário que o ceu exibe, ora espessamente nublado, ora com rasgos dum azul anil preenchido por fofas nuvens brancas...que espetáculo! A cada dia conheço outros lugares na cidade velha ou histórica da Guarda: porta Del Rei e judiaria, bairro onde os judeus se instalaram, fugindo da perseguição que sofreram no reino de Castela, na Idade Média. Apesar do intermitente chuvisco temperado com
friaca, percorro as ruelas estreitas e sinuosas que revelam detalhes deliciosos a cada dobra de esquina: as casas construídas em granito, o bimbalhar dos sinos das igrejas da Misericórdia, esta em lindo estilo barroco, e de São Vicente, o muro coberto de hera ou a maçaneta em formato de mão, além do salão de sinuca invarialvelmente fechado. Não canso de bater perna pela Guarda! A cada dia um novo detalhe encanta meus olhos: o canteiro florido e a macieira carregada de frutas na praça, o pátio interno da diocese, a fachada em azulejos da mercearia, um ângulo diferente da torre de Menagem e as várias faces da catedral da Sé! Desde que cheguei, dia 9 de outubro, o clima tem estado super ameno prum outono europeu já que o país está a viver o chamado "verão de São Martinho". No domingo, 20 de outubro, o tempo muda, a temperatura desce, chuvas temperadas com vento e espesso nevoeiro inauguram vigorosamente a entrada do outono.
Adios, veranico...q peninha, estava tão gostoso o calorzinho!! Ao redor da cidade, usinas de torres eólicas giram conforme a força do vento e, à noite, as luzes vermelhas denunciam sua colorida existência. No domingo passado, houve eleições municipais, e nos cartazes espalhados pelas ruas e avenidas, a presença feminina era minguadíssima. Aqui, como no Brasil, a eterna luta entre a esquerda e a direita, sendo que esta tem como bandeira o enrijecimento das leis migratórias, onda que vem se alastrando pela Europa. A população da cidade está em torno de 40 mil habitantes, destacando-se a presença de africanos, especialmente, os pertencentes às antigas colônias portuguesas, daí a presença de tantos guinenses da Guiné Bissau. Como diz Mariatu, os portugueses se dão o direito de migrarem pra outros países da comunidade europeia, como Suiça e Alemanha, em busca de melhores salários que os pagos em Portugal. Juntam uma boa grana e retornam ao país investindo em imóveis, garantindo, assim, uma velhice confortável. Contudo, se aborrecem que nós, africanos, venhamos pra cá, visando o mesmo, comenta ela. Pois é....2 pesos e 2 medidas para situações semelhante!
que ele me dê preferência na fila de obtenção do visto. Qual não foi minha surpresa quando a funcionária pergunta se tenho uma carta-convite da minha amiga para visitá-la. Depois de algum conversê, tento argumentar que não tenho e nem pretendo morar no país. E ela, sem dó algum, lasca "muita gente da sua idade vem cá tentar a morar". Quando vou mostrar a passagem de volta, ela resolve carimbar o passaporte e deixar eu passar....filha duma égua!! Suando frio com medo de perder o voo, corro pelos corredores do aeroporto - por sinal bem mal sinalizado - e chego a tempo no portão de embarque graças ao atraso da aeronave....dessa feita, bendito atraso!! Orientada por Mariatu, quando chego no Porto, pego um autobus que demora 3 horas e meia até a Guarda. Vou curtindo a paisagem e as diversas cidades que se localizam ao
longo das ótimas rodovias. Solange, amiga de Mariatu, também guinense, me espera na estação de camionagem (rodoviária) e carrega, gentilmente, minha malinha minion. Atualmente, viajo na tarifa básica que inclui a tal mala de 10 kg mais uma mochila de 2 kg. Bom demais encontrar minha comadre que carrega, no colo, Gaudencio, seu bebezinho de 2 meses e meio. Fez pra me esperar bacalhau à Gomes de Sá e pergunta se quero vinho branco ou tinto, sabedora de como gosto desta bebida. Pensou em tudo a querida comadre. Bibi está no colégio e lá vamos nós buscá-la. Ela fica radiante quando me vê, abraços e beijos são trocados com ardor. Todo o tempo que passei na Guarda, busco Bibi no colégio à tardinha (o ensino no país é em tempo integral) e sempre ela me presenteia com desenhos que faz durante a aula. No dia do
niver de Bibi (o nome dela é Beatriz, em minha homenagem, mas eu a chamo de Bibi porque me soa estranho chamá-la por meu nome), vamos ao cinema ver um desenho animado, regado a pipocas e refri no shopping La Vie, o único da cidade. Ela faz 6 anos!! Santo deus, como o tempo passa rápido! Lembro bem do dia em que ela nasceu: seu gritero poderoso ao ser retirada do útero materno ecoava pelo corredor da maternidade do Hospital Femina. Agora está uma menina alta, magra, falante, esperta, alegre e agitada. Carinhosa me acorda com beijinhos e me chama de Dinda Bibi. A festa, entretanto, é comemorado no sábado, e seu pai, Jean, vem comprando bebidas e comida já faz alguns dias para oferecer aos convidados. Na sexta, quando ele chega do serviço, fica na cozinha preparando as carnes com ajuda de Solange e Mariatu. Ele gosta de cozinhar e faz ranguinhos saborosos. Minha ajuda se limita a encher minha taça e o copo de Jean de vinho. Ambos gostamos dum vinhote, pois pois. Vamos deitar passada 1/2 noite e durante a manhã de sábado até a hora da festa, marcada pras 16 horas, o movimento na cozinha é intenso, com Jean assando carnes e galinhas. Guinenses sabem fazer uma festa!! O niver é um sucesso com
a presença de amigos do casal, todos da comunidade guinense. Bibi vestida de princesa brincou com os amiguinhos e ganhou muiitooos presentes, abertos na manhã de domingo.
Durante a primeira semana na Guarda, houve uma reunião muito agradável com 3 amigas de Mariatu: Laída, a + velha, 42 anos, Solange, estudante, e Sonia, dona de salão de beleza cuja especialidade é fazer tranças com cabelo artificial ou humano, estilo preferido das africanas. O gritero explode qdo começamos a falar sobre sexo. Há uma pequena catarse, especialmente, com Laída, presa aos dogmas sombrios do catolicismo. Bom extravasar sensações reprimidas hein!! Lá pelas tantas desandam a falar criolo, uma mistura de português e idiomas africanos. Intuo que conversam, principalmente, a respeito de seus homens, aconselhando-se umas as outras, em segundo lugar, o papo é sobre filhos. Bueno, a Guarda, fundada em 1199, fica na encosta da serra da Estrela, fincada a 1.056 m de altitude, daí ser a cidade mais alta de Portugal. Cheia de altos e baixos exige muito das pernas ao caminhar e as dos ciclistas ao pedalar. Num de meus passeios, venho a conhecer o
Parque da Saúde, complexo hospitalar rodeado por um jardim imenso onde abundam árvores como cipestres, pinheiros, castanheiras e sequoias. Construído no início do século passado, o antigo sanatório Souza Martins visava o tratamento da tuberculose porque, à época, acreditava-se que a altitude ajudava a curar tal doença. Restam, uma pena, apenas ruínas de alguns pavilhões. Abriga ainda o parque a sede da primeira rádio portuguesa, a rádio Altitude. Na entrada, à direita um magnífico fontanário em estilo barroco. Atualmente, houve o acréscimo de esculturas modernas espalhadas entre as árvores. A Guarda, como toda cidade da Idade Média, era murada visando assim se proteger do ataque dos inimigos. Para entrar na cidadela havia 5 portas, restando nos dias de hoje apenas 3: a do Sol, del Rei e da Erva. Bem cuidada, a Guarda tem um centro histórico com prédios bem conservados, destacando-se a Catedral da Sé, as Torres de Menagem e dos Ferreiros, além das estreitas ruelas sinuosas onde o sol mal
penetra, exibindo casas feitas com granito, material abundante na região. Trato de conhecer a catedral da Sé, em estilo gótico, e "escalo" a tortuosa e íngreme escada que conduz aos seus terraços donde se pode admirar os campos ao redor da cidade. A seguir dou um pulinho até a Torre de Menagem, prédio quadradão que se destaca não pelo estilo arquitetônico mas por estar encarapitado no alto duma colina. Por acaso, descubro um atalho onde são cultivadas hortas comunitárias com suas reluzentes hortaliças. Sentar ao final da caminhada no modesto Café Tasca, na praça Luís de Camões, defronte à Sé, pra tomar um café ou uma taça de vinho, curtindo a fachada em tromp l'oeil duma casa abandonada ou observando as variações de cenário que o ceu exibe, ora espessamente nublado, ora com rasgos dum azul anil preenchido por fofas nuvens brancas...que espetáculo! A cada dia conheço outros lugares na cidade velha ou histórica da Guarda: porta Del Rei e judiaria, bairro onde os judeus se instalaram, fugindo da perseguição que sofreram no reino de Castela, na Idade Média. Apesar do intermitente chuvisco temperado com
friaca, percorro as ruelas estreitas e sinuosas que revelam detalhes deliciosos a cada dobra de esquina: as casas construídas em granito, o bimbalhar dos sinos das igrejas da Misericórdia, esta em lindo estilo barroco, e de São Vicente, o muro coberto de hera ou a maçaneta em formato de mão, além do salão de sinuca invarialvelmente fechado. Não canso de bater perna pela Guarda! A cada dia um novo detalhe encanta meus olhos: o canteiro florido e a macieira carregada de frutas na praça, o pátio interno da diocese, a fachada em azulejos da mercearia, um ângulo diferente da torre de Menagem e as várias faces da catedral da Sé! Desde que cheguei, dia 9 de outubro, o clima tem estado super ameno prum outono europeu já que o país está a viver o chamado "verão de São Martinho". No domingo, 20 de outubro, o tempo muda, a temperatura desce, chuvas temperadas com vento e espesso nevoeiro inauguram vigorosamente a entrada do outono.
Adios, veranico...q peninha, estava tão gostoso o calorzinho!! Ao redor da cidade, usinas de torres eólicas giram conforme a força do vento e, à noite, as luzes vermelhas denunciam sua colorida existência. No domingo passado, houve eleições municipais, e nos cartazes espalhados pelas ruas e avenidas, a presença feminina era minguadíssima. Aqui, como no Brasil, a eterna luta entre a esquerda e a direita, sendo que esta tem como bandeira o enrijecimento das leis migratórias, onda que vem se alastrando pela Europa. A população da cidade está em torno de 40 mil habitantes, destacando-se a presença de africanos, especialmente, os pertencentes às antigas colônias portuguesas, daí a presença de tantos guinenses da Guiné Bissau. Como diz Mariatu, os portugueses se dão o direito de migrarem pra outros países da comunidade europeia, como Suiça e Alemanha, em busca de melhores salários que os pagos em Portugal. Juntam uma boa grana e retornam ao país investindo em imóveis, garantindo, assim, uma velhice confortável. Contudo, se aborrecem que nós, africanos, venhamos pra cá, visando o mesmo, comenta ela. Pois é....2 pesos e 2 medidas para situações semelhante!
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