Como vim parar nesta cidade tão distante de onde nasci e vivi? Foi a gana de conhecer lugares e sotaques bem diferentes dos do sul maravilha onde passei 68 anos de minha vida, pois embora idosa o espírito aventureiro ainda vive neste corpitcho. Mas não foi só isso, não, juntamente com meu filho, construímos o BeeCool, pousada e restobar, tornando-me,
portanto, empresária, o que não deixa de ser uma baita aventura, em se tratando deste Brasil com seus entraves burocráticos e tributos mis. Situada no Tocantins, norte do país, Palmas se espalha entre a margem direita do lago Tocantins - o que lhe dá leve semelhança com Porto Alegre e seu Guaíba - e a serra do Lageado que, ao cair da tarde, exibe trechos avermelhados de seus paredões areníticos avivados pela luz do sol poente. Vim aqui terminar meus dias e não digo isso em tom lamentoso mas com uma baita certeza de que a vida obedece ao princípio da impermanência, portanto... c’est la mort après la vie...fazer o quê, né? Inexiste recurso contra essa fatalidade biológica. Basta de filosofices, voltemos à cidade. Seu clima tropical tem duas estações bem definidas: a seca e a chuvosa pero sempre caliente. Na época da seca ou verão, o céu é invariavelmente azul, salvo quando flocos de nuvens brancas aqui e acolá o salpicam de branco. As árvores já floridas anunciam o nascimento das frutas típicas do cerrado como pequis, cajus, mangas, atas e outras mais que crescem a la vonté pelas ruas. Eu me delicio e as colho nas pedaladas pela cidade. Flamboyants e favas de bolota pontilham com suas flores vermelhas os galhos das árvores. Esta última, árvore símbolo do Tocantins, lembra uma gigantesca árvore de natal. Contudo, as queimadas grassam no final
desta estação deixando um rastro de fuligem no ar, embaçando e poluindo a atmosfera com suas colunas de fumaça acinzentadas. Na época da chuva, o céu inconstante, ora se mostra candidamente azulado, ora toldado por nuvens escuras, escutando-se ao longe o rimbombar dos trovões prenunciado as intensas chuvas de monções que alagam a cidade, Entretanto, são breves. Florzinhas amarelas e rosas nascem nos canteiros gramados das rotatórias. Suas amplas avenidas, divididas por canteiros, têm 2 pistas, cada uma com 3 faixas. As rotatórias substituem os cruzamentos com semáforos, salvo a Joaquim Teotônio Segurado que conta com tais dispositivos. As ruas são apelidadas de quadras seguidas dum numeral com a direção norte ou sul, por exemplo, 104 norte, alameda X, lote y (indicativo do número da casa) já que a cidade é dividida em região norte e sul tendo como divisor a praça dos Girassóis onde fica o centro geodésico do país. A cidade, conforme plano urbanístico municipal, preserva capões de cerrado o que lhe confere um quê de “selvagem”. Muito jovem, 33 aninhos, algumas de suas ruas ainda são de chão batido. A maioria das edificações são casas, geralmente de um pavimento, e os edifícios concentram-se na orla do rio e no centro da cidade. A feijoada,
curtida tradicionalmente nos sábados, chambari e buchada são constantes nos cardápios dos restaurantes populares, geralmente instalados em quiosques, mesas ao ar livre, dispostas sob frondosas mangueiras. A cena musical da cidade é bem eclética: passa pelo pagode e chorinho, engrenando no sertanejo e resvalando no rock and roll e música eletrônica. Dois são os parques principais, o Cesamar e o dos Povos Indígenas. O primeiro possui, além, dum grande lago rodeado de pista asfaltada pra caminhadas, trilhas de chão batido que rasgam a densa mata de cerrado. A chance de se deparar com animais silvestres é grande. Eu mesma já vi tatu bola, macaco prego, veados, tartarugas e dezenas de aves ruidosas. Há restaurante, parquinho infantil, pista de skate e muro de escalada. À tardinha, armam-se barraquinhas, vendendo quitutes. O segundo é menor porém muito agradável. No Natal, a avenida Joaquim Teotônio Segurado é enfeitada com luzes coloridas e o espaço do Centro Cultural exibe diversas esculturas natalinas feericamente iluminadas. Um espetáculo que encanta tanto adultos quanto crianças. Poucas pessoas são vistas transitando pelas calçadas pois as temperaturas elevadas desanimam qualquer tentativa nesse sentido. Como diz o palmense: um sol pra cada cidadão! Em compensação, pedalar é uma beleza porque há calçadas largas com faixas tanto pros ciclistas quanto pros pedestres. Há
2 feiras, uma na 304 sul, outra na 307 norte. A primeira ocupa um espaço bem amplo, com bancas ao ar livre e cobertas. Super sortida, vende desde o clássico pastel a comidas paraenses como os tradicionais maniçoba e tacacá, funcionando desde manhã cedo até tarde da noite. Já a segunda, mais modesta, termina no fim da tarde. Mas há outras feiras como a do Bosque, aos domingos, com expositores de artesanato e venda de comidas típicas. Na beira das calçadas, destaque para os milhos assados em toneis metálicos, vendidos à tardinha. O pessoal se vira pra ganhar a vida! Palmas conta com 5 praias à beira do lago Tocantins: Graciosa, Prata, Caju, Buritis e das Arnos. Como há piranhas perto da margem, redes de proteção foram instaladas pra proteção dos banhistas. Nos restaurantes, você pode comer um prato de tucunaré acompanhado de batatas fritas, arroz, farofa, vinagrete
e pirão. Prefiro a praia de Luzimangues, do outro lado rio onde se chega percorrendo os 8 km da ponte FHC. Lá não há registro de piranhas. No entorno da cidade, na encosta da serra do Lajeado, há boas trilhas tanto pra quem gosta de caminhar quanto pros bikers e pra galera barulhenta do motocross. Conheço a do mirante do Limpão (ali perto recomendo o quiosque do Baiano cuja comida podrão vale a pena experimentar) e a da Tartaruga, ambos trajetos em torno de 7 km ida e volta, donde se tem uma visão tanto da serra do Carmo quanto do lago Tocantins. Os pores do sol nesses sítios, em especial no verão, são espetaculares. Outra boa opção de passeio é subir até Taquaraçu, distrito de Palmas, distante 30 km onde há diversas cachoeiras boas pra se banhar. De quebra, Taquaruçu vale a visita com seus restaurantes e casinhas coloridas e uma praça onde nas datas oficiais há comemorações como um consagrado festival gastronômico em cujos pratos típicos são utilizados como ingredientes frutos do cerrado. Riscando o ceu em pares, as araras são
aves onipresentes no cotidiano da cidade encontrando abrigo ora nos galhos das árvores ora nos troncos ocos das palmeiras. Já as corujas merecem cuidados especiais, sendo-lhes reservadas, nas rotatórias, pequenas casinhas de madeira visando sua proteção. A população de Palmas, acolhedora, usa expressões peculiares como “simbora banhar mais eu”, “a bicha é dura”, "mal triscou" ou “vou dar uma pisa nele”. Palmas dos ventos intensos, do sol escaldante, das secas prolongadas e das violentas chuvas de monção é 8 ou 80. Não tem meio termo, revelando o rosto dum Brasil mestiço onde os caras pálidas são exceção!





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