domingo, 9 de abril de 2023

Lado B da Chapada das Mesas

No sábado de Aleluia, fazemos outros passeios, não muito distantes de Carolina: sítio da Mansinha e Pedra Caída. Na verdade, era pra eu mais Marcelo termos ido às cachus do Prata e São Romão. Meu carro exibindo, contudo, estranho comportamento tremelicante na direção, me deixa temerosa de enfrentar a dura estrada de chão batido que conduz às quedas d’água. Daí o motivo de a gente conhecer outros atrativos. E não nos arrependemos. Vamos primeiro à fazenda da Mansinha cujo dono é o chefão do ICM-Bio na região da Chapada das Mesas. O homem cheio da prosa desfia umas estórias sobre o parque deitado numa rede enquanto sua mulher, bem jovem, só observa o conversê. Eu com uma preguiça danada, me levanto e convoco Marcelo a explorar o lugar. Descemos até o rio e descobrimos 2 placas que anunciam 2 trilhas: Ronco da Onça, super curta, e a Morada do Caipora, de 1.500 metros. Esta última não leva a lugar nenhum porque está totalmente desmarcada, tanto que eu e meu parceiro nos perdemos no emaranhado de arbustos que formam o cerradão. A poucos metros da sede da fazenda, fizeram um represamento no riacho Mansinha, super gostoso de se banhar. O que faço sem pestanejar, mergulhando em suas refrescantes águas. Quando voltamos pra casa do dono, a mulher preparara um almoço pra nos esperar: cobrado é claro! Louca de fome que estou, sento à mesa e mando ver na comidinha despretensiosa mas saborosa. Até tentamos vencer a pé os 2 km que nos separam da cachu da Mansinha, mas o adiantado da hora - 1 da tarde - o calor escaldante mais a areia fofa da estradinha faz com que desistamos e peguemos, então, o carro. A cachu é bem pequena, deve ter um 1,5 m se tanto, formando um pequeno poço de águas transparentes e limpíssimas, rodeada por verdejante mata. Um pequeno paraíso no meio do cerrado! E lá seguimos nós, eu mais o falante e animado Marcelo pro próximo objeto do desejo: Pedra Caída. Do Santuário, complexo turístico formado por um monte de atrativos naturais e outros nem tanto (tem tirolesa e até teleférico), nós só queremos saber da tal Pedra Caída, motivo porque pagamos só por ela, já que cada atrativo demanda outro pagamento! Aliás, a gente paga pra entrar e por cada atrativo que se quer visitar. Como eu sou super maior de idade (70 anos) paguei ½ entrada que ficou 35,00 de portaria e + 20 da Pedra. Não me desaponto, o lugar é realmente espetacular. Se desce uma escadaria até o leito do rio que escavou um pequeno canyon cujo vértice é formado por rochas cobertas de limo verde com cerca de 50 metros de altura que quase se fecham no topo, tornando o lugar bem escuro, meio apavorante, tipo filme de terror, por onde despenca o violentíssimo jorro d’água. Tamanha a força das águas que há cordas pras pessoas se agarrarem e não serem jogadas contra as pedras. Assim como foi no Recanto Azul, na Pedra, a gritaria do povo (ressalvo que não só mulheres e crianças apelam pro berreiro, os homens também se esgoelam de excitação) é de exasperar, se eu fosse uma doente em estado terminal, comprava uma bazuca e metralhava toda essa gente sem consideração com a audição alheia. 
No domingo de Páscoa, lá vamos nós pra mais uma trilha, a dos Guardiões, também aberta por Renilton. Nesta trilha é necessário ir de carro até o ponto onde começa a pernada. Se junta ao grupo, Jamil, um rapaz que também se hospeda no mesmo hostal do Marcelo. Cerca de 20 km rodando pela BR 10, quebramos à esquerda e embarafustamos por uma estradinha de areia fofa, com umas poças de água que me causam apreensão mas guiada por Renilton não atolo. Após 6 km, Renilton avisa que ali deixamos o carro, iniciando a caminhada que se dá, inicialmente, numa mata cerrada, seguida duma campina com árvores de troncos tortuosos e espessos aqui e acolá. Ao longe, os cerros e as chapadas destacam-se na paisagem. Claro que a moleza loguinho acaba e a subida inicia, rente à base duma grande rocha, retornando nós sem muita demora a caminharmos sobre uma superfície plana. De repente damos de cara com um arco de pedra que exibe em seu centro uma cavidade arredondada, batizada Olho de Horus (deus egipício, protetor da humanidade). Ao lado, outra rocha menor, em formato de cabeça, é considerada o 1º Guardião da trilha. Uma pequena parada de modo que registremos as 2 esculturas, com Marcelo utilizando seu drone pra filmagens aéreas. E seguimos a caminhada por esta lindeza que é o cerrado, bioma com várias faces, aqui exibindo sua feição de savana com arbustos de pequeno porte. Dum tronco, pendem fios duma resina cor de âmbar, produzida pela árvore. Ao toque, a substância, um tanto quanto pegajosa, encanta por sua linda coloração. E no meio da campina, uma gigantesca pedra em formato de pênis prova o que é estar sempre de pau duro...hahaha (que piada sem graça, cruz credo). Descemos então até uma ravina de solo extremamente avermelhado, rodeada de densa vegetação, continuando a caminhada ao longo daquela depressão formada pelas águas de enxurradas, típicas da temporada do chuvaral. E se não fosse Renilton chamar nossa atenção, teríamos passado pelo 2º Guardião da trilha em brancas nuvens!! A enorme pedra mais parece um ET, saído direto dum filme de ficção científica produzido pelos estúdios de Hollywood, tamanha a semelhança. Mais uns 15 minutos de pernada, chegamos noutra ravina. Renilton nos informa que o pequeno lago formado abaixo do alto paredão avermelhado é a nascente do Tapuí, que significa “índio submisso aos brancos”. Igualmente rodeada por mata, aqui nos banhamos, já que a suadeira é muita após a caminhada debaixo do sol do ½ dia. Só Jamil trouxe algo pra comer, bolachas doces, que reparte entre nós. Renilton informa que há outra ravina ao lado. Claro está que vamos conhecê-la, como não! Bem menor que a anterior, também é um oásis de frescor no meio do cerrado. E quando eu achava que já tinha visto tudo de lindo na pernada como os 3 boqueirões escondidos no meio do mato, qual não é a minha surpresa quando se chega num minicanyon de paredes escuras e rosadas por onde escoa o pequeno caudal de águas absolutamente cristalinas do riacho Tapuí. As paredes que não devem alcançar 3 metros de altura quase se encostam uma na outra tão estreita sua abertura na parte inicial. Do vértice, jorram com força 2 jatos de água. Nem de tão longe assim, se escuta o ribombar dos trovões. Chuva na época do chuvaral, que venha, afinal já estamos molhados mesmo hahaha!!! Simbora lelê de volta ao carro porque a fome tá fazendo um escarcéu em nossas panças, já que não seriam as bolachinhas de Jamil que aplacariam nossos apetites. Afinal, foram 8 km duma pernada bem puxada. Quando chegamos no carro, Renilton comenta que essa trilha mais a do Bananal representam o lado B da Chapada das Mesas, porque é pura aventura, sem as mordomias que os atrativos standards oferecem. Sou mais o lado B, podicre! Pensa que a aventura termina aqui? Tsk tsk tsk...só não! Sabe aquela poça d’água que eu temera na vinda? Pois então, atolo bonito as rodas traseira e dianteira da camionete nos sulcos já bem fundos da estradinha. E sem possibilidade de socorro porque pouquíssimos turistas vêm pra essas bandas. E não dá pra ir a pé porque estamos a 25 km do camping, além de chover pacas! Que perrengue!! Renilton, meu bom guia, entretanto não se desespera. Calmamente, se interna no mato junto com os guris e os 3 de facão em punho (carrego sempre 2 em meu carro) cortam 3 arboretos, utilizados, um como apoio, outro como alavanca e o terceiro sob o pneu. Chama-se macaco baiano esse rudimentar macaco hidráulico que nos salva de permanecer atolados sabe-se lá até quando. E seguimos felizes da vida, molhados que nem pintos até o Refúgio do Raiz Camping onde bebemos espumante oferecido por mim, mais um ranguinho trazido gentilmente por Renilton da casa dele. Chave de ouro prum dia tão cheio de beleza, aventura e camaradagem! Amém

Um comentário:

Jamil disse...

Olá Bia, adorei o texto. Também gostei muito da trilha. Apesar dos perrengues rs. Espero voltar novamente para conhecer mais a chapada.