Diferentemente
do ano passado, minha nova incursão Brasil adentro parte da catarinense Ponta
do Papagaio, na praia da Pinheira, onde a família de Pedro Emílio, meu parceiro
de trip, tem uma casa de veraneio. Permanecemos 2 dias pedalando além de uma
deliciosa caminhada no vale da Utopia, na serra do Tabuleiro. O dia, mais
bonito impossível: céu azul, poucas nuvens, temperatura amena. À noite,
enquanto Pedro Emilio assa gorda tainha, cozinho batatas. Os assíduos leitores,
curiosos, provavelmente, estão se perguntando “quem é esse tal de Pedro
Emilio”? Tá tá, já tô abrindo parêntesis – bem grande, viram?! - pra explicar
que conheço Pedruska há pouco tempo, remando numa guarderia, situada na vila Conceição
em POA. À maliciosa pergunta duma amiga “teu love, Bia?” respondo que, no
momento, dividimos apenas mesa, o futuro só a nós pertence. Bueno, voltando a
Pedro Emilio: ele é o que meu filho chama de Biriri (maluco beleza) e regula de
idade comigo. Repentista, faz versos poéticos quando vai com a cara da
criatura. É um faz tudo por excelência, situação vantajosíssima, gente assim
não se aperta em qualquer lugar do planeta pra ganhar o pão nosso de cada dia.
Viver de bico exige culhão, inerente dos aventureiros raiz porque permite
liberdade de movimento. Embora não tenha frequentado faculdade tem diplomas em
diversos cursos, entre os quais estética automotiva, martelinho de ouro e
permacultura. Até hoje, contudo, ainda não teve oportunidade de exercer tais
ofícios. Mas tá na batalha. E quase esquecia o mais importante de todos os
canudos: os 3 meses de sobrevivência na selva que, com justa razão, Pedroka, orgulhosamente,
ostenta! Legal e sem frescuras, curte vida ao ar livre além de estar sempre
pronto pra pedalar e remar comigo. Na quinta, 30 de maio, nos mandamos BR 376
afora, pernoitando na paranaense Marialva, num hotel bem legalzinho à beira da
rodovia. Dia seguinte, percorremos breve trecho em São Paulo, logo adentrando
Mato Grosso do Sul, com pernoite em Bandeirantes, pequena cidade à beira da BR
163, onde aproveitamos pra pedalar um pouco assim que chegamos. O bom em viajar
de carro é que se pode levar bikes e caiaques pra se exercitar ao longo da
viagem. Após 5 dias de estrada, chegamos em Cuiabá, no meio da tarde. O querido
Oswaldinho, filho da amigona Osnilde, nos espera com sua sorridente
cordialidade. Permanecemos na capital mato-grossense 3 dias, pedalando
caminhando no parque Mãe Bonifácio e assistindo filmes no Netflix, convivência
esta entremeada de muito conversê e risadas com nosso bem humorado anfitrião.
Seguindo sugestão de Taci, namorado de Tiago, o caçula de Osnilde, vamos
conhecer Tangará da Serra distante 240 km a noroeste de Cuiabá. A cidade com
pouco mais de 100 mil habitantes é considerada a 5ª mais populosa do estado.
Da. Maria, dona do hotel California, onde nos hospedamos, conta que quando lá
se estabeleceu, há 44 anos, a luz era de gerador, sendo desligada às 22 horas.
Casas de madeira e ruas sem calçamento. Não havia ainda plantações de soja ou
de milho. Segundo os paus rodados (forasteiros), os cuiabanos não são de muito
trabalho, se contentando com pouco, motivo por que foram os de PR, SC, RS e SP
que introduziram, após correção do solo, as plantações em larga escala de soja
e de milho, dando início ao agronegócio. As viagens eram demoradas em razão de
as estradas chão batido, na época da chuva, virarem traiçoeiros atoleiros. Pra
alongar as pernas, pegamos as bicis e pedalamos pela cidade conhecendo o bosque
municipal, pequena área verde de mata de cerrado onde cotias circulam entre a
vegetação. Dia seguinte, conferimos os Saltos Maciel e das Nuvens banhados pelo
rio Sepotuba. Ao contrário do primeiro que não possui nenhuma infraestrutura, o
segundo, conta com restaurante e pousada mais passarela para bem desfrutar a
bela e larga queda d’água. Enquanto rodávamos pela boa estradinha de chão
batido até o Salto das Nuvens, Pedro Emilio, rebatizado por mim Xamã Sideral
devido ao temperamento avoado e estilo de vida alternativo, comenta “olha as
vaquinhas ali, olha o olhar delas, que sutileza”...hahaha. O bom nesta parte do
país é que se come peixe de rio pra caramba, tanto que no almoço pedimos
ventrecha (costela) de pacu, delícia de pescado. Feita a digestão, nos tocamos
pela igualmente boa estrada de chão batido até a cachoeira do rio Formoso. O
passeio é uma roubada: 25 pilas pra ver uma queda d’água medíocre, em nada se
comparando em beleza às anteriores. Minha pouca experiência com índios me leva
a crer que eles não são lá muito simpáticos, sempre transparecendo leve desdém
pelos brancos. Queriam nos cobrar 170 reais pelo camping!! Eu hein!! Claro está
que nos mandamos da aldeia, preferindo dormir em Campo Novo do Parecis. Pra
tanto enfrentamos desde Barra dos Bugres até início da MT 358 uma péssima
rodovia cheia de buracos, um pesadelo. Em Itanorte, sou obrigada a comprar na
beira da estrada, num restaurante, 11 litros de gasol por 70 pilas dum
aproveitador, porque em 150 km de rodovia entre Tangará da Serra e Campo Novo
do Parecis inexiste unzinho posto de combustível. Adoro hotel fuleiro à margem
de rodovia. Assim, não dá outra, nos hospedamos num à margem da BR 364 em Campo
Novo de Parecis. Na 5ª feira, 6 de junho, desistimos de conhecer Vila Bela da
Santíssima Trindade, situada a sudoeste, trocando Campo Novo do Parecis por
Nobres. Se Pedro Emilio já se embasbacara com as lavouras no Mato Grosso do
Sul, ficou mais siderado ainda com as extensas lavouras, em ambos os lados da
MT 010, de cana, soja, girassol, algodão e milho que tornam o Brasil uma grande
potência do agronegócio. Pedro Emilio tanto se extasia com as plantações a
perder de vista e seus silos gigantescos como com a beleza do cerrado nessa
época do ano bem verdinho. Calor gostoso de 28º C e céu azul fazem com que eu
me sinta muiiitooo contente! Chegamos a Nobres e encontramos, à beira do rio
Nobres, um acampamento ideal, primeiro dos tantos que ainda teremos pela
frente. À tardinha os banhos no rio são os melhores porque a água aquecida pela
insolação diária apresenta-se com temperatura calidamente ideal. Sempre bom
estar alerta, não em estado de pânico, pois aqui sucuris e onças podem dar
pinta, portanto olho vivo. Esta parte do Brasil não perdoa desavisados, estamos
na Disneylândia, não. Exceto o caseiro e sua família, só dá nós no
sítio....ebaa!!! Depois de dias dormindo em camas, fazendo comida no conforto
duma cozinha ou comendo em restaurantes, bom demais da conta fazer fogo de chão
pra cozinhar e dormir em rede. A pequena Nobres é uma agradável cidadezinha,
com larga avenida cortada por um canteiro central e casas confortáveis. Muita
gente andando de bicicleta. Ligado por uma agradável estradinha de chão batido,
o camping, onde estamos dista 5 km do centro da cidade, apelidado pelo povo do
centro-oeste e norte "rua". Certa manhã, retornando ao camping,
avistamos desengonçado animal de forma indefinida se arrastando em direção à
estrada, prontamente identificado por Pedro Emilio como um tamanduá bandeira.
Eita bicho deselegante! Com o passar dos dias, a família do caseiro revela-se
muito pedinchona. Ora o homem pede que eu o leve de carro até a "rua"
para comprar cerveja, ora a mulher querendo refri quando saímos à tardinha até
o centro. Mas o guri, um dos 3 filhos do caseiro, é o campeão: tudo que vê
quer, seja banana, bolacha ou o que mais tenha na nossa caixa de mantimentos
pra onde espicha seus gulosos olhinhos. Lembra uma mosquinha varejeira rondando
a gente, o pentelho. Na sexta, 07 de junho, passeio de bici ao longo da MT 241
até o encontro dos rios Cuiabazinho e Manso que formam o Cuiabá. Perfeito o céu
nublado porque assim não se sofre muito pedalando já que o termômetro deve
estar acima dos 30º C. De rango nesses dias só coisinha leve: salada de verdura
e legumes misturada com atum além de salada de frutas. Esta ao ser finalizada
atrai os filhos do caseiro que a devoram impiedosa e alegremente. À noite,
batata doce mais pão tostado com azeite e ervas finas, regando a ceia o tinto
português Periquita. E a água do rio emanando seu barulhinho bom a 30 metros da
minha rede!! Entre os muitos pássaros, na mata ao redor, há um que se destaca
pelo seu trinar semelhante a alarme de carro, tanto que ao ouvi-lo pela
primeira vez pensei que fosse o da caminhonete que disparara!! No sábado, o dia
lindo, sem nuvens, 34º C, organizamos um piquenique na cachoeira do Bananal,
distante do camping 2 km. A trilha ao longo aa bela e verdejante mata se dá ao
longo do acidentado rio Nobres cheio de pequenos saltos e jacuzis. À noite, a
mulher bêbada, de soluçar, vem bater papinho comigo. Quer me levar até sua casa
onde Pedro Emilio já se encontra com seu marido comendo carreteiro. Consigo
convencê-la a caro custo que sozinha estou bem, obrigada pelo convite, até
amanhã! Domingo, o dia pra variar segue lindo. Resolvemos explorar melhor os
arredores de Nobres e acabamos descobrindo o sítio Vale das Águas, na Vila Roda
d’Água, distante 40 km da cidade. Os donos, Luciano e Tati, consentem que nós
acampemos embora o lugar ainda não esteja aberto a tal atividade. Ele nem quis
cobrar mas fizemos questão de pagar a mesma diária de 20 pilas que pagáramos em
Nobres. A 500 metros da sede passa o rio Salobra cuja nascente, na Gruta Azul,
exibe transparentes águas azul-esverdeadas. Dá pra ver nitidamente
piraputangas, piaus e pacus nadando rente ao leito do rio. Lugar paradisíaco.
Nem só Bonito possui rios límpidos pra flutuação! Após almoço bem caseiro na
Erlanda, encerramos o domingão, fazemos bóia cross no rio Quebó. Embora o
percurso seja pequeno - 2 km -, 300 metros se dão no interior duma gruta em
absoluta escuridão...sensacional! Claro está que nos dois dias de estadia no
Vale das Águas, muito pedal nas estradas de chão batido de coloração
avermelhada. As noites frescas exigem saco de dormir. Na terça, 11 de junho, a
fim de pegar a barraca que eu esquecera em Porto Alegre e arrumar o som do
carro, retornamos a Cuiabá. Pela MT 351 avista-se uma visão como se fosse “das
costas” das famosas muralhas avermelhadas da Chapada dos Guimarães, diferente
daquela que se tem da tradicional MT 251 que une a capital mato-grossense
àquela cidade. Dia seguinte, quarta, ao deixarmos Cuiabá, resolvo fazer uma
parada no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães pra que Xamã Sideral conheça
o lugar embora eu já o tenha visitado em 2007. Pra conhecer o parque todo tem
de contratar guia que custa 200 pilas. Como ele não tá a fim de gastar toda
essa grana, visitamos, já que não exige guia, as cachus dos Namorados,
Cachoeirinha e Véu de Noiva. Terminado o passeio, resolvemos ficar na cidade e
escolhemos o camping Paraíso Alternativo cujos donos, Tamara e Juninho mais o
bebê Zaion, nos acolhem alegremente. Estendemos nossas redes no quintal e à
tarde, vamos eu e Xamã pedalando até o mirante do centro geodésico. Na quinta,
pedal urbano na super turística embora encantadora Chapada dos Guimarães quando
conheço Leo Rocha, dono de loja de artesanato indígena, saindo do
estabelecimento. Ficamos conversando por quase 1 hora sobre cobras, construção
de telhados com folhas de palmeiras, plantas e seus usos medicinais e claro
sobre Desafio em Dose Dupla em que ele participou. Revela que a Discovery
exigia pra bem dramatizar as cenas que eles comessem minhocas pros episódios serem
bem realistas. Esse mundo fake....tsk tsk tsk
Um comentário:
Oi amiga! Estas suas viagens são maravilhosas! Que bacana que você teve a companhia do seu amigo Xamã desta vez!
Não me admiro os desprezo dos índios por nós, os brancos...tanto que sofreram e sofrem ainda.
Muito bacana Bea!
O vídeo também!
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