Depois de quase dois meses sem ir a Praia Grande, me mando pra lá feliz da vida. Adoro essa cidade. Foi paixão à primeira vista e agora virou devoção visitá-la amiúde. Foi assim que comecei a prestar atenção num morro situado um pouco além dos limites da pacata cidadezinha. Nem tanto pela altura, mas por seu formato piramidal, que se destaca entre as tantas elevações arredondadas da região. No início do ano, quando subi o morro do Cavalinho, mais uma vez o avistei. Perguntei a Kaloca seu nome. “Facão, Bea, e aquela crista que se prolonga a partir do cume forma o cabo”. Pra mim, não parece nadica de nada com uma faca. Engraçada essa mania de se atribuir às rochas e montanhas formatos similares aos de seres inanimados. Há alguns tipos de relevo que fazem, realmente, jus ao formato do objeto a que foram associados, porém há outros em que é necessária muita boa vontade pra identificar algo. Eu mesma me pego assim agindo. Não à-toa, apelidei um morro, atrás da Pedra Branca, de morro da Mitra porque lembra aquele chapéu que enfeita os cocurutos dos prelados católicos e anglicanos. Como o inverno está chegando e não apetece nem um pouco fazer canionismo, sou obrigada a inventar outras formas de indiadas. Combinamos, então eu e Kaloca, uma incursão ao morro do Facão. E pra lá nos tocamos. Ao contrário de sábado, quando rajadas fortes de vento e céu nublado dominaram a paisagem enquanto fazíamos rapel, na via do Urubu Rei, parede norte da Pedra Branca, hoje, domingão solarengo, somos brindados com um céu límpido e temperatura mais elevada. Quebramos à direita, e entramos numa estradinha vicinal àquela que leva à da Pedra Branca. A trilha inicia na parede norte do canyon Itaimbezinho onde o Facão se localiza. Dessa forma, é possível visualizar o início desta parede de onde se espraiam várias gargantas no sentido oeste-leste: Via dos Monitores, rente ao morro dos Cabritos, seguida pela via Proibida, cuja vizinha se chama Garganta Verde. Já desci as entranhas destas três, rapelando suas magníficas cachus. Há mais gargantas desembocando no espinhaço central do Itaimbezinho, já que sua área de entorno se apresenta drenada por pequenos córregos, responsáveis, em parte, pelo trabalho de erosão em ambas as paredes deste magnífico perau. Inicialmente, percorremos uma subidinha íngreme ao longo dum pasto que permite visualizar a paisagem sem o estorvo da vegetação cerrada da mata atlântica. Pouca demora, desembocamos num bosque cerrado que esconde a "finalera" do horizonte. Graças a deus, a quantidade dos insidiosos e irritantes bambuzinhos é de pouca monta. Ultrapassado o bosque, após trinta minutos de pernada, entramos em campo aberto, e a subida torna-se mais áspera. Um escalão de rochas exige uma certa escalaminhada, nada complicada, entretanto. E daí pra frente, o terreno, coberto de pequenos arbustos e pedras ocultas pela espessa vegetação, dificulta um pouco a subida até o topo do Facão. A paisagem de cima deste morro é a mais soberba de todas as que conheço em Praia Grande. Embora menos alto que o Barbacuá e o Cavalinho, bate de longe estes dois picos. Só a visão que se tem duma curva em forma de cotovelo do canyon Itaimbezinho, em frente ao morro da Mamica, já vale o esforço da pernada. Admiro a precisão trapezoidal da face sul do morro dos Cabritos. A natureza é tão surpreendente: este morro, quando se sobe a serra do Faxinal, exibe forma diversa, arredondada, comum à maioria das elevações. À leste, tonalidades diversas de verdes formam um mosaico de plantações: banana, mandioca, milho, fumo e cana de açúcar. E a fina língua serpenteante do rio Mampituba traça um divisor natural entre a comunidade gaúcha Mãe dos Homens e a vila catarinense Santa Luzia com suas casinhas que parecem tão minúsculas vistas aqui do alto. Ao norte, Praia Grande e a lagoa do Sombrio, enquanto ao sul, o exuberante paredão da Pedra Branca destaca-se entre o cerro da Corcova e o morro da Mitra. Descemos e, já no pastinho, encontramos uma bergamoteira. Sentados na grama, chupamos, eu e Kaloca, os adocicados e suculentos bagos das pequenas frutas, cultivadas, coisa boa, com o saudável e bom adubo natural da bosta de vaca, sob o sol dum quase inverno que, já já, mostrará suas garras friorentas. Não gosto dessa estação apesar de morar no extremo sul do Brasil. E sabe por quê? Quem gosta de frio é pinguim, uai!
4 comentários:
Morro do facão, nunca ouvi falar! kkkk
Qual é a altitude Bia?
Abração!
Paulo
Menina, vontade de visitar essa Praia Grande...por ora só afazeres por aqui e nada de viagens. E Minas, me recomendas algo? Talvez vá acompanhar meu namorado numa prova em Contagem, perto de Ouro Preto...Beijos da papa areia que vêm papando além de areia muitaaa água de chuva kkk
Concordo plenamente, não consigo ver nada que justifique essa denominação. Tenho dois fatos marcantes referentes a este morro. Na vez em que, acompanhando a equipe do programa "Expedições", sobrevoamos os Aparados de helicóptero, nossa saída da região se deu sobre o Itaimbezinho, na altura dos campos e pela extensão do complexo "Facão". Tenho lembrança da vegetação e pontas; O outro fato é que o primeiro Plano de Manejo elaborado para o PNAS previa - acreditem - um posto de fiscalização na extremidade deste morro. Um absurdo, bem coisa de quem jamais percorreu a região. Não que seja inalcançável, mas necessitaria de uma logística impensável para sua construção e, principalmente, abastecimento.
Nasci e cresci vendo esses quatros morros de perto,facão, pedra branca, cavalinho e morro dos cabritos. Quando era pequeno, ficava imaginando quando cada um sumia atras da serração, pensava; onde ta o morro?..., tenho dois irmãos que tem o privilegio de morar entre esses quatro morros. hoje moro longe dela, mas visito sempre que posso. Para quem gosta da natureza, não conheço lugar melhor.
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