Meu interesse por Minas vem de priscas eras. Tudo começou quando, meninota, li Minha Vida de Menina, escrito pela mineira Helena Morley, livro que volta e meia releio embora já seja burra velha. Nascida em Diamantina, ela, a conselho de sua vó, registrou seu dia a dia de adolescente durante 2 anos. Os deliciosos relatos dessa guria, nascida no final do século XIX, encantaram os anos nem tão dourados assim de minha adolescência. Sonhava em visitar os lugares que descrevia com tanta vivacidade e riqueza de detalhes. Infelizmente, não é dessa vez que vou conhecê-los. Tem importância, não. Mais um motivo pra aqui retornar. E como estou em Santa Bárbara, tenho mais é que aproveitar o que a cidade me oferece. Dou um rolê até o centro histórico onde, ainda, restam exemplares de belos casarios construídos na época em que o país era uma grande colônia, e põe grande nisso, de Portugal. O atrativo principal da cidade concentra-se no assim chamado Quadrado, que de quadrado não tem nada, pois se trata duma avenida que termina na antiga cadeia, postada, ironicamente, (?) ao lado da Igreja Matriz de Santo Antonio. De estilo barroco, em seu interior, abundam aqueles ornamentos dourados tão ao gosto da igreja católica. Um belo afresco, pintado por mestre Athayde, enfeita o teto da capela-mor. Enfim, sem ser, exageradamente luxuosa, como tantas outras existentes no estado, exibe certa pompa discreta. Mais acima, no meio da avenida, destaca-se uma modesta igreja: Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Vista de frente lembra a proa duma escuna. A cidade tem como fonte principal de renda a extração de ferro e ouro por grandes companhias de mineração. Afinal, Portugal não logrou esgotar a abundância de metal precioso abrigado em nosso subsolo, pois, pois! Atrás da cadeia, uma imponente ponte de ferro, cujo piso foi construído com grandes dormentes de madeira, cruza o rio Santa Bárbara. O dia tá lindo, temperatura amena, dançando no céu aqui e acolá, fiapos de nuvens que não conseguem embaçar o visual da serra do Caraça que se avista ao longe. Pra variar o dia da partida é sempre de bom tempo...droga!! Uma visita obrigatória impõe-se: conhecer a residência onde nasceu Afonso Pena. Seus restos mortais, após uma briga judicial entre a municipalidade de Santa Bárbara e o cemitério São João Baptista, no Rio de Janeiro, descansam, enfim, no jardim da casa onde nasceu, num belo jazigo de mármore branco, onde a República, representada por uma figura feminina, pranteia, ajoelhada sobre a lápide, a perda de tão ilustre homem público. Na volta, entro num boteco onde alguns homens bebericam cerveja e jogam conversa fora. Não resisto à vitrine dos tira-gostos e peço uma empadinha de galinha. Mas as aparências enganam. O quitute é um tanto quanto insosso. Antes de deixarmos a cidade, vamos às compras. Não de souvenires, e sim, de gêneros alimentícios pois pretendemos, quando chegar em BH, fazer uma janta de despedida. Enquanto eu e Lili vamos até o açougue comprar a lingüiça que, ontem, comêramos no Caraça, Marcelo e Vânia entram numa quitanda pra comprar tomates, cebolas e demais condimentos a serem usados no arroz com lingüiça, o prato escolhido. Já a caminho de BH, entramos em Catas Altas que, também, se localiza na Estrada Real. Encantadora, a cidadezinha, bem menor e mais pitoresca que Santa Bárbara exibe um casario colonial com muros de taipa. No largo, o prédio colonial branco e azul da matriz de Nossa Senhora da Conceição tem a sua frente o pico de Catas Altas, uma extensão do maciço do Caraça. Escolhemos o restaurante Histórias, uma casa restaurada mantendo, entretanto, intacta, suas antigas feições. Um aprazível jardim com mesas e cadeiras onde se pode comer ao ar livre. O dono, simpático e gentil, vem pessoalmente nos atender. Provo então outro quitute mineiro: pastel de angu, que vem a ser massa de polenta frita recheada ou com carne ou com galinha desfiada. Oh, meu deus, se fico mais tempo em Minas, vou sair rolando de tão gorda tais as delícias culinárias que esta terra produz! Os 112 km da BR 381 que vencêramos na ida em 1 hora e 20 minutos, alongam-se por mais 2 horas em razão de intenso e congestionado trânsito. A ponto de Marcelo desligar o carro. Em compensação, o pôr do sol está uma beleza. Já na casa de Marcelo, todos nós na cozinha ajudamos no preparo da janta. Após o suculento arroz com lingüiça preparado por Lili, secundado por berinjelas ao alho feitas por Marcelo, levamos Lili até a rodoviária. Ela vai a Montes Claros visitar filha e netos. E eu tenho uma breve visão do centro de BH. Não me interessam muito essas grandes cidades. Meu coração fica sempre lá, aninhado nas matas, nos cerrados, nos campos e nas savanas, preservados ainda da deletéria sanha de urbanização perpetrada em nome do desenvolvimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário