O prognóstico pro findi não é lá dos mais auspiciosos: há rumores de chuva no sábado. Tô nem aí, me mando quinta-feira, de mochila, barraca e saco de dormir pra Praia Grande. Vou participar do II Encontro Sul Catarinense de Escalada e Montanhismo, que acontecerá de sexta a domingo na comunidade São Roque, mais conhecida como Pedra Branca, situada a 22 km da cidade. Chego à tardinha, na pousada Colina da Serra, e na janta, Mariazinha, a meu pedido, preparou uma sopinha. Serve, ainda, a danada da gringa, uns croquetes e risolis de camarão – uma delíííciiiaaaa - que comemos, bebericando um vinhozinho tinto. Como sempre, o assunto entre nós rola fácil e ficamos naquela tagarelice bem feminina até que o sono bate e me recolho. Acordo trianimada e vou buscar Kaloca. Meu amigo pede que eu vá com Marcolino tentar soldar a antena do radioamador que quebrou. Depois de visitar três oficinas que não tinham a solda adequada, finalmente, encontramos uma, cujo dono, de nome Moderno, conserta, graças a deus, o artefato. Com o carro carregadinho de tralha, vamos felizes da vida estradinha afora. Marcolino se mandou na frente dirigindo a moto de Kaloca, que passa o trajeto todo me contando de seus últimos saltos de pára-quedas em Floripa. Em lá chegando, os guris, que já haviam construído um ranchinho, terminam de cobri-lo com lona. Não satisfeitos, constroem uma mesa de bambu pra colocar o computador e a aparelhagem de radioamador, necessária pra chamar resgate em caso de acidente. Kaloca, muito caprichoso, pendura capacetes e roupas de neoprene numa taquara e o barracão fica uma beleza de ajeitado! Esses dois, habilidosíssimos, são os Macgiver de Praia Grande, podicre! Numa churrasqueira, feita de tijolos, assam umas lingüiças pro nosso almoço. Eu fico encarregada de cuidar do rango enquanto eles terminam de montar o acampamento. Qual não é minha surpresa quando, num descuido, vejo uma galinha bicando nossa comida. Foi aquele auê! Kaloca dispara atrás da ave de pau em punho e a danada não corre, voa em louca disparada!! Muito hilária a cena! Nesta comunidade, localizam-se três canions: Josafaz, com 16 km, onde nasce o rio Mampituba, São Gorgonha e Faxinalzinho. Uma belezura de lugar! À tardinha, chega Sabrina, uma das organizadoras do evento, dona duns olhos azuis sensacionais, juntamente com Aline, uma loirinha rechonchuda, condutora local. E mais gente vai chegando e montando suas barracas ao longo da noite. A sonzeira rola em alto e bom tom. O ambiente festivo é pra lá de gostoso, é bótimo! À noite, acendemos um fogo na churrasqueira e sentamos a sua volta, bebendo vinho e conversando até as 2 da madruga. Aline e Joel tocam violão e cantam. Quer coisa melhor? Durante a noite, acordo com o barulho da chuva tamborilando no teto da barraca....que merda! Tantos fins de semana maravilhosos e logo neste há de chover?!! Droga, mil vezes droga!! E durante todo o sábado chove quase sem tréguas. Claro está que pra galera da escalada isso é péssimo, porque sem chance escalar rocha molhada. Então só resta uma escalaminhada até a Pedra Branca, enfrentando uma trilha por demais lamacenta. Mas ninguém se mixa e lá vamos nós morro acima. Rafael, que veio do Paraná pra fazer base jump, não consegue saltar porque ao chegarmos ao topo da Pedra o nevoeiro é de brumas de Avalon. Sem condições de visibilidade, não rola o salto. Mesmo assim o pessoal curtiu demais a caminhada, e voltamos famintos pro acampamento. Cozinho pra mim e os guris (Marcelo, Marcolino, Kaloca e Rafael) aquele tradicional ranguinho de acampamento: massinha miojo com atum e molho de tomate. À noite, há um festerê. Uma big janta preparada pelas mulheres da vila cujo cardápio caseiro faz todo mundo repetir e encher o prato com mais feijão, arroz, aipim, galinha caipira e saladas de cenoura, repolho, tomate e chuchu. São Roque é uma comunidade quilombola, habitada em priscas eras por escravos que fugiram de seus patrões, encontrando nesse fundão um refúgio pra tantos maus tratos. Como toda comunidade fechada, os casamentos acontecem entre as famílias. Assim é um tal de primo casando com prima, em infindáveis laços familiares. Frank, cujo sugestivo apelido é Piolho de Dread, apresenta Seu Afonso, um dos moradores locais, figura muito simpática que conta uns causos sobrenaturais. E um vídeo sobre a comunidade é exibido, além de sorteios de vários objetos. Eu, bem cansada, vou deitar cedo, mas soube, no dia seguinte, que a festa rolou até alta madrugada, com roda de viola. Estou eu dormindo a sono solto, quando Marcelo me acorda, pedindo a chave do meu carro. Os organizadores do evento, percebendo que o Faxinalzinho elevou o nível de suas águas, avisam à moçada pra que passem seus carros pro outro lado do rio porque, se ele encher, nós ficaremos ilhados aqui até que as águas baixem. Já pensou?! E assim inicia-se um fuzuê de carros atravessando o rio às 2 da madruga. E o acampamento ferve de tanta excitação. Claro está que levanto e vou ao barracão conversar sobre o sucedido, lá permanecendo até as 3 da manhã, quando então retorno pra barraca. Na manhã seguinte, domingo, embora vente muito, o sol está a mil, céu de brigadeiro, um dia esplendoroso. Decido acompanhar Bruno e Sergio, dois portalegrenses, até o outro lado do rio Mampituba, onde há, segundo Flavio, guia local, umas formações rochosas boas pros guris tentarem fazer boulder. As pedras molhadas, entretanto, impedem a escalada. Bem que eles se esforçam, porém mal conseguem avançar poucos metros parede acima já que está pra lá de escorregadia devido à chuva de ontem. Muito bem humorados, divirto-me deveras com os dois, filmando suas travessuras nas rochas. Gente finíssima. Aliás, muito bacana a galera toda: o falante Gil, natural de Brasília, radicado agora em Tubarão, e atual presidente da GMT, a esguia Monalisa, de olhinhos puxados, a meiga Gezaela em cuja barraca eu me hospedei, as três gurias escaladoras que vieram de Criciúma, o pessoal de Passo Fundo, os guris de Sapucaia, e tantos outros mais cujos nomes, infelizmente, não consigo recordar. Soube depois que alguns escaladores se tocaram pra Pedra Branca e conseguiram realizar duas ascensões: uma de três cordadas na via Urubu Rei e outra até a metade na via Xocleng. Apesar do mau tempo, foi um encontro muiiitooo legal, ninguém saiu insatisfeito porque o clima de confraternização foi alto astral, sem qualquer incidente negativo. Tudo transcorreu na santa paz. E ano que vem tem mais, podem crer!
2 comentários:
Grande Bia! Cumprindo a promessa e postando além do vídeo uma "matéria" sobre o encontro! Fico lisonjeado pela parte que me toca ;)
Parabéns pelo blog, muito legal mesmo.
Abração.
Bruno
Oi Bia..
Te achei no google.. kkk
Vim aqui para agradecer a sua presença no 2o ATM do Sul de SC.
Espero poder reencontra-la n'uma montanha muito em breve.
Bj grande...
Gil!
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