Depois do chuvoso feriado de 1º de maio em Praia Grande, cuja única atividade possível de ser praticada foi a do rapel na garganta do Tupy, pego a estrada e me mando novamente pra lá. Dessa feita, as perspectivas pro feriadão de Corpus Christi são animadoras, segundo prevê a meteorologia. Chego na cidade e o dia lindo, quente, anuncia um esplêndido veranico de maio. Como sempre, sou carinhosamente recebida por Mariazinha, a dona da pousada Colina da Serra. Almoço às pressas o ranguinho sempre gostoso feito por ela. Mal temos tempo de trocar umas idéias pois, pouca demora, Kaloca aponta montado em sua “possante”, uma destemida motoca 150 cc. E lá vamos nós, livres, leves e soltos estrada afora em direção à Pedra Branca. Esta formação rochosa, situada no Rio Grande do Sul, eleva-se a 600 metros do nível do mar e constitui a parte final da encosta norte do cânion Josafaz. Seu nome vem da aparência esbranquiçada de suas paredes de basalto causadas não só pela ação da intempérie e dos líquenes como da possível presença de resíduos de sal deixados por um antigo mar que ocupou a região há milhões de anos atrás. Aproveito e faço filmagens enquanto a moto, célere, percorre a péssima estrada de terra que conduz à comunidade de São Roque. Deixamos a "possante" em frente a sede social do lugarejo. Ao invés do turbulento rio que não pudéramos atravessar no feriado do Dia dos Trabalhadores, a correnteza do Mampituba flui mansa e suas águas escorrem sem pressa rumo ao norte. A subida é ár-du-a e o calor tá pegando, algo em torno de 28ºC; paro um monte de vezes pra recuperar o fôlego. Nem ligo pro cansaço, porque sou recompensada pela estupenda visão do vale que se espraia lá embaixo. A minha frente, vislumbro as encostas verdejantes de três canions: ao sul, o Josafaz e o Mampituba, ao norte, o Faxinalzinho. Pesquisando, posteriormente, os canions, no Google Earth, percebo que os três formam um “T” cujos braços da letra representam os canions Josafaz e Faxinalzinho, situado o primeiro à sudeste e o segundo à noroeste, enquanto o canion Mampituba, ou São Gorgonho, é a perninha da letra, também situado à sudeste. De onde estou, distingo o encontro do arroio Josafaz com o rio Mampituba, engrosssado mais adiante pelo rio Faxinalzinho. Chegamos no topo da Pedra Branca e avisto lá longe, a 20 km de distância a quase adivinhada Praia Grande. Nossos planos de rapelar a parede norte da imponente formação rochosa são abortados, infelizmente, já que Kaloca esquecera de trazer sua cadeirinha. Que droga!! Me sinto levemente frustrada. Entretanto, tal sentimento dura pouquíssimo, logo sou distraída pelo vôo de um gavião exibindo uma longa cauda dupla, como se fosse um tesoura levemente aberta. Nesse lugar tão lindo, soturnas cavilações duram menos que um piscar de olhos, aleluia!! Na pousada, a janta, esplêndida, cheia de apetitosas comidinhas (a sobremesa é divina: sagu com vinho tinto além de pudim de leite condensado), me faz comer sem peias. Só não durmo feito um anjo durante a noite porque sou acordada, em plena madrugada, pelo barulhão estrepitoso da veneziana indo de encontro ao batente da porta-janela. Lá fora, a ventania, fortíssima, açoita árvores que farfalham resfolegantes. Dou um peteleco em Morfeu e fico curtindo os sons da irritada natureza até ser rendida pelo sono.
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