sábado, 6 de setembro de 2008

Garganta do Tupy

Embora nublado, não chove. Conforme o combinado na véspera, Caloca vem me buscar e lá vamos nós em sua moto, uma 150 cc, rumo à garganta do Tupy, situada na comunidade de Rio do Meio, município de Mampituba, no RGS. A paisagem que se descortina é muito mais reveladora andando de moto do que do interior de um carro. Nada embaraça minha visão. Avisto durante boa parte do trajeto, a minha esquerda, os belos morros do Cocuruto, da Pedra Branca e do Barbacoá (já subi até seu topo e a paisagem lá de cima é trilegal, podendo ser avistado, quando não há nebulosidade, o litoral distante um pouco mais de 30 km); à direita, o morro do Facão e ainda a Serra do Cavalinho onde há uma trilha que desemboca no Itaimbezinho. Atravessamos, então uma ponte de arame, construída sobre o Mampituba, alcançando a margem sul do rio situada em plagas gaúchas. Eu super receosa de que a ponte não agüentasse o peso da moto bem como o nosso, me agarro com força em Caloca.....uuuiiiiii que medinho!!! Chegamos na trilha que nos levará às cachoeiras e para tanto temos de atravessar um bananal plantado numa encosta bem íngreme. O interessante neste canionismo é que iniciamos a aproximação, subindo a partir do poço da segunda cachoeira. Assim, é possível se ter, ao invés de outros rapéis, uma visão frontal da cachoeira, ou seja, do que iremos enfrentar quando formos descê-la. É uma bela queda d’água com cerca de 38 metros, cheia de degraus naturalmente escavados no basalto, rocha muito dura porque formada pela compactação de sucessivos derrames de lava vulcânica. Geologicamente é considerada a vovó de todos os três tipos existentes. Subimos uma pequena ravina o que nos obriga a fazer uma miniescalada. A mata cerrada impede a passagem dos raios de sol. Evito me apoiar nos xaxins, uma espécie de feto, mais conhecidos como samambaias. Seus caules, embora de aparência inofensiva, são cobertos de traiçoeiros espinhos. Helicônias pespontam de vermelho o verde da mata. Variedades de bromélias podem ser vistas aninhadas nos ramos das árvores e espalhadas pelo chão. A típica vegetação tão característica da mata Atlântica. Chegamos então ao topo da garganta. É um canionismo vapt vupt com apenas 3 cachoeiras, sem grandes dificuldades técnicas. Iniciamos os procedimentos usuais: vestir as roupas de borracha - longboards, as mesmas usadas por surfistas -, as cadeirinhas e os capacetes. Caloca já está amarrando as cordas nos grampos, colocados quando da conquista da via no início de janeiro. Abaixo de meus pés, a 400 metros de altura, espraia-se longínguo o vale. Respiro fundo e começo a descida. Com as chuvas, as cachoeiras estão bombando. Muita água, gente! E lá vou eu desafiando aquele paredão de rocha, meio receosa depois do meu pancadão no Rapel do Café em janeiro. Chego no poço, suspiro, desato a corda do oito e espero Caloca que desce, tal qual uma salamandra, tamanha sua agilidade. O trajeto até a segunda cachoeira é curtíssimo, pouco mais de 30 metros. Com 47 metros de altura, também, não apresenta maiores dificuldades: as paredes apresentam-se cobertas de musgo impedindo que as botas escorreguem na pedra molhada. O tempo ainda nublado descortina vez por outra o brilho tímido do sol. Antes de iniciarmos o rapel da terceira e última cachoeira, comemos nossos lanches. Meu olhar passeia pelas paredes da garganta e aprecio o “silêncio” da mata. Barulhinho bom esse!! Por fim, eis-me na borda da menor das três quedas d’águas: 28 metros de descida me esperam. Olho pra cima e vejo uma réstia de sol iluminando a copa das árvores. Escorrego mansamente pelas paredes e a forte pressão da água castiga minha perna esquerda que dói um pouco. Pra fugir dessa situação, conduzo meu corpo pra direita, desviando da queda d’água.....ufa!!! logo já estou alcançando o poço. Caminhamos de volta até ao ponto onde havíamos deixado a moto. Os mosquitos e as mutucas atormentam minhas pernas e braços descobertos (no dia seguinte, estavam febris de tanta inflamação, inclusive doloridos nas juntas.....arre, insetos infernais!!). E lá vamos nós de volta a Praia Grande, eu na carona da moto, sempre um pouco receosa, imaginando que se Caloca derrapa numa daquelas inúmeras pedras que assoalham a estrada de chão batido, com certeza, vou ganhar belas e doloridas esfoladuras. Foi pôr o pé na pousada que a chuva desabou, firme e forte, um caudal d'água dos bons! Pois pra minha surpresa, fico sabendo que enquanto estivéramos no Rio Grande do Sul, distante pouco mais de 20 km, chovera o dia inteiro em Praia Grande. Obrigada, São Pedro....santinho prestativo este!

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