sábado, 29 de dezembro de 2007

Canions Itaimbezinho e Fortaleza

Descobri Praia Grande, localizada em Santa Catarina, meio ao acaso em 2002. Estava procurando um lugar maneiro pra comemorar meus 50 anos quando, ao ler numa revista de turismo sobre aquela pequena cidade cujo principal atrativo são os canyons em seu entorno, não vacilei e me toquei pra lá. Curiosa, peguei um ônibus em Porto Alegre e me fui BR 101 afora. No trecho da rodovia onde há a vila São João, um pouco antes de Torres, o ônibus dobra à esquerda e envereda por uma estradinha vicinal, de chão batido, num trajeto pra lá de sacolejante. Gastam-se 4 horas pra percorrer 230 km. Mas fazer o quê se não sei ainda dirigir, né? Desde então não parei mais de ir a Praia Grande. Visitei vários e diversos canyons ou peraus como são chamados na região estes magníficos acidentes geológicos. De todos os tamanhos e formatos, os canyons são estupendos, de perder o fôlego. Conheço o Josafaz, o maior deles com mais de 16 km de extensão, o Faxinalzinho, o Itaimbezinho, o Molha Côco, o Índios Coroados, o Malacara, o Churriado, o da Pedra, Macuco ou das Bonecas e o Fortaleza, sendo que estes dois últimos estão no município de Jacinto Machado, distante de Praia Grande cerca de 60 km. Atualmente, já dominando um pouco o medo de altura, faço canionismo, tendo rapelado o canyon da Pedra e a garganta do Café. O Malacara desci por uma trilha aberta na encosta de sua parede sul. À época, ainda não me animava a rapelar suas cachoeiras. Entretanto, acampei e passei uma noite naquele magnífico grotão. Foi aí que conheci Kaloca, o meu mestre em canionismo. Portanto, nada melhor que passar a virada de ano neste lugar que tanto amo!! Assim, lá me vou com duas amigas escolhendo um roteiro light já que elas não são tão aprofundadas assim em esportes radicais. Por óbvio, iniciamos nosso roteiro com uma caminhada de borda ao redor dos clássicos canyons Itaimbezinho e Fortaleza cuja parte superior situa-se no Rio Grande do Sul e a inferior em Santa Catarina. Embora o dia esteja meio nublado, graças a deus, não apresenta viração ou nevoeiro. Este fenômeno é causado pela diferença de temperatura e pressão entre o litoral e a serra resultando numa espessa formação de nuvens no interior dos canyons dificultando, assim, a visão dessas profundas e extensas gargantas. O canyon do Itaimbezinho faz parte do Parque Nacional dos Aparados da Serra e seu acesso se dá pela estrada da serra do Faxinal que une Praia Grande a Cambará, cidade esta já localizada em terras gaúchas. O canyon com pouco mais de 5 km de extensão é o único na região que não se apresenta verticalizado, ou seja, em degraus. Há duas trilhas na parte superior: a do Cotovelo de onde se avista lá embaixo o rio do Boi serpenteando serelepe em meio às rochas que recobrem seu leito. Do mirante tem-se uma visão dos impressionantes paredões rochosos cuja altura média fica em torno de 700 metros. Chamam a atenção os pinheiros nativos e o campo de turfas por onde os pés descuidados podem se afundar até o tornozelo depois de uma temporada chuvosa. Já da segunda trilha, alcunhada de Vértice, vislumbram-se as cachoeiras das Andorinhas e a do Véu de Noiva. As belíssimas quedas d'água apresentam-se volumosas para encantamento dos turistas. Há uma boa infraestrutura no parque com lanchonete e mesas ao ar livre pra quem quiser fazer um piquenique. Deixamos o parque pra trás e continuamos a subir a serra chegando então a Cambará de onde uma estradinha com pouco mais de 20 km nos conduz ao canyon Fortaleza, com quase 8 km de extensão, situado no Parque Nacional da Serra Geral. A trilha, bem demarcada, permite admirar o esplêndido canyon e uma de suas cachoeiras, a Fortaleza, que despenca de seu paredão sul numa vertiginosa e volumosa queda d’água. Caso o tempo permita, consegue-se até avistar o litoral, distante pouco mais de 40 km. Entretanto, tal visão nos é furtada porque a visibilidade não é lá das melhores. O céu continua nublado, rapidamente a massa cinzenta transforma-se em pesadas e baixas nuvens pretas, raios ao longe riscam o céu de prateado. Trovões metralham o silêncio da tarde. Nuvens velozes saem do interior do canyon formando um cenário de filme americano, gênero catástrofe. Eu, embasbacada diante de tal espetáculo, saco ávida minha câmera do bolso da bermuda e passo a filmar antes que a chuva finalmente caia em pingos grossos e cortantes. O vento me empurra pra frente, eu me vejo entre assustada e deslumbrada com tal manifestação selvagem da natureza. Molhada até os ossos sinto na pele a chuva me vergastar avidamente. Nem dou bola. Estou como o diabo gosta, hahahahaha!!! Passados 15 minutos, a chuva cessa abruptamente e o sol aparece meio tímido. Aproveitamos a estiagem e enveredamos então até a trilha que dá na cachoeira do Tigre Preto, situada numa garganta lateral do Fortaleza. Pra se ver a cachoeira de frente tem de se atravessar o arroio Segredo. Pra isso, passa-se bem junto à borda da cachoeira. Parece assustador, contudo, ela forma um largo platô, quinze metros abaixo de onde, então, despenca por mais 180 metros até atingir o fundo da garganta. Continuando a caminhada, contorna-se a borda do canyon e chega-se afinal na Pedra do Segredo, um monolito de rocha basáltica de 5 metros de altura apoiado numa área de apenas 50 centímetros quadrados, dando a impressão que a qualquer instante irá despencar canyon abaixo! No final da tarde, retornamos à Praia Grande. Se o tempo houvesse nos brindado com um sol radioso, o passeio não teria sido tão bom. Afinal, uma pequena tempestade de verão faz o sangue correr mais rápido e o coração bater acelerado, não é mesmo?

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