quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Norte de Portugal Revisitado

Num voo de uma hora, vindo de Madri, chego ao aeroporto do Porto, preferindo ônibus ao metrô até o local onde me hospedarei já que o trem exige baldeação. O estúdio por mim reservado é bem legal, localizado na rua das Fontainhas, a dois passos do rio Douro e da Ribeira e a 2 km da Estação São Bento. Fontainhas significa, no delicioso linguajar do português de Portugal, fonte pequena. Bueno, o estúdio ou suíte além de fogão elétrico, geladeira e louça oferece máquina de lavar roupa, o que vem a calhar porque certas roupas minhas necessitam duma boa lavagem! Tais irmãs siamesas, separadas por um curso d'água, chamado Douro, assim são Porto e Vila Nova de Gaia. Como a corda e a caçamba não dá pra visitar uma sem conhecer a outra. Conheci ambas em 2006 quando visitei o norte do país com minha mãe. Retorno, agora, não exatamente pra rever as cidades mas pra reencontrar um casal de Caxias do Sul, que conheci de vários pedais feitos naquela região serrana. Aproveito a curta estadia em Porto - não mais que um dia e meio - pra já na tarde de minha chegada dar um rolê pelo seu centro histórico e comer apetitosas castanhas assadas vendidas por ambulantes nas calçadas enquanto admiro a obra prima do séc. XVIII, que é o exterior todo azulejado da Capela das Almas de Santa Catarina. Encerro a noite, jantando filetes de robalinho grelhados, no Majestic Café, uma joia do estilo arquitetônico art nouveau. No dia seguinte, saio a bater perna na Ribeira curtindo as várias pontes sobre o rio Douro que unem Porto a Vila Nova de Gaia e vice-versa. Dentre as 6 pontes, destaca-se a portentosa estrutura metálica em dois passadiços da Ponte Dom Luiz I, construída no século XIX. As escunas turísticas quando não dão o ar da graça singrando o Douro, quedam atracadas às margens do rio aguardando nova leva de turistas. Cruzo a ponte Dom Luiz I pelo passadiço inferior e chego à Vila Nova de Gaia donde se tem uma visão incrível da Ribeira do Porto, suas casinholas coloridas de 2 e 3 pavimentos e as torres da Sé do Porto. Subo após o almoço até a colina onde foi construído o Mosteiro da Serra do Pilar. Na praça em frente ao prédio, dezenas de pessoas curtem o radiante sol da tarde. Clima perfeito embora estejamos em pleno inverno europeu! Retorno ao Porto pelo passadiço superior da ponte Dom Luiz I, apreciando, creio eu, o único vestígio da antiga muralha que protegia a cidade. À noite, a convite de Maria Leonor e Ricardo, vou jantar na residência do casal, pertinho da foz do Douro. Já noitinha, com a iluminada ponte de Arrábida a frente, eu e Maria Leonor nos encontramos no meio do caminho. Os fortes abraços trocados demonstram nossa alegria pelo reencontro. Um gostoso bacalhau preparado pelo anfitrião é o prato principal acompanhado de bons tintos portugueses, pois pois. Ricardo está cursando pós-doutorado em Porto e adorando morar neste cantão português, Por ele fica pra sempre aqui, ao passo que Maria Leonor, no início, sentiu maior dificuldade em se adaptar já que veio acompanhar o marido. Mas como boa gringa da serra gaúcha, soube fazer do limão uma limonada. E dale a frequentar cursos que, por falta de tempo quando estava no Brasil, não se permitia fazer. A janta transcorre agradavelmente, num bate papo animadíssimo porém a boa comida e os vinhos fazem seu efeito. Assim, despeço-me dos anfitriões, não só de pancinha cheia mas com o coração aquecido pela calorosa acolhida dos queridos amigos. Dia seguinte, pego o comboio pra Braga em São Bento, a linda estação de trens cujo átrio é decorado em ladrilhos azuis e brancos com narrativas de cenas da vida portuguesa de antigamente. A viagem demora cerca de 1 hora, parando em diversas estações, algumas decoradas com os famosos azulejos portugueses. Rui Barbosa está a minha espera na gare de trens. Conheci-o, quando ele estava a trabalhar como optometrista em Bissau, assim que cheguei ao país africano em dezembro. Decidiu trocar aquela profissão por outra que mais lhe apraz: a de guia turístico. Não por outro motivo estou em Braga: pra fazer trekking no Parque Nacional Peneda-Gerês, que Rui conhece profundamente. Como ele precisa cumprir certos compromissos, após o almoço fico sozinha e não perco tempo em dar um rolê pela cidade. Rolê bem diferente daquele de 14 anos atrás mas igualmente prazeroso. Embora a cidade esteja a 50 km do Atlântico ainda se vêem gaivotas voando aqui e acolá. Fotografo a traseira do antigo palácio, agora museu dos Biscainhos, e atravesso a Porta do Arco Novo, resíduo da antiga muralha que cercava a então medieval Braga. Entro na Sé da cidade e me deleito com seu coro onde está instalado um magnífico órgão. No pátio da catedral, há vestígios de máscaras esculpidas em pedra, segundo o guia da catedral, possivelmente de origem celta. Numa mercearia, onde entro para comprar água, me encanto com réstias de tomates bem vermelhinhos. Continuo o passeio ao longo da rua principal passando pelo Largo do Paço. Mais adiante sou surpreendida ao escutar dois brasileiros, há anos em Portugal, tocando Galos, Noites e Quintais do inesquecível Belchior. Como ainda me sobra tempo até o encontro com Rui, continuo o tour passando por uma avenida cujos canteiros são decorados com couves ornamentais!! Na praça de Almeida Garrett, sobressai, entre dois prédios a frontaria da Igreja dos Congregados. Num largo, entre duas ruas, se impõe a solitária Igreja da Senhora-A-Branca. A super católica Porto, é assim: seja numa dobra de esquina, no meio ou fundo de ruas, as indefectíveis igrejas aguardam tanto os culpados quanto os inocentes fiéis. Quando os ponteiros dos relógios encostam nas 18 horas, parto de Braga ao som dum heavy metal pra lá de cristão: o bimbalhar dos sinos das igrejas bracarenses. 

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