Pretendo com este blog descrever viagens que fiz e farei por este tão lindo planeta, resgatando da memória as impressões armazenadas, algumas já esmaecidas pelo tempo, outras prudentemente registradas pelo olho mágico das lembranças fotográficas.
sábado, 21 de dezembro de 2019
Marrakech
Como faço há 2 anos desde que Raul,
meu único filho, se mudou pra Bissau, capital de Guiné Bissau, vou no final do
ano ter com ele. Aproveitamos então pra conhecer alguns países, africanos. Assim sendo, só permaneço 2 dias em Bissau, justo
pra renovar meu visto. Dia 20 de dezembro nos tocamos pra Marrocos, um dos países (os outros são Argélia e Tunísia) pertencentes ao Pequeno Magreb, situado no noroeste da África. Na época do Império Romano, era conhecido como África menor. Em 1956, Marrocos que, até então, era
protetorado francês, tornou-se independente, constituindo-se atualmente numa
monarquia constitucional. Nosso primeiro destino em solo marroquino é Casablanca onde nos hospedamos no ape de Omar, amigo de Raul. Embora não seja capital do Marrocos, é sua mais populosa cidade com cerca de 5,5 milhões de habitantes. Situada à margem do Atlântico, tem o maior porto do norte da África, sendo o
centro financeiro e industrial do país. Moderna, com amplas avenidas, a cor branca prevalece nas
construções, daí a origem de seu nome. Ao estilo mourisco entremeia-se o legado
arquitetônico francês. A ampla variedade de restaurantes, cafés
e bistrôs oferece, além da culinária marroquina, a de outros países, dando à Casablanca certa feição cosmopolita. Quando
chegamos ao apartamento de Omar, sua mãe, a carinhosa e hospitaleira Zeina, nos
espera com um tacho de cuscus, tradicional comida árabe feita com sêmola de
trigo, ao contrário do nosso cuscus feito com milho. Dia seguinte à nossa
chegada, vamos com Omar a uma cafeteria onde provamos um tradicional desjejum
marroquino. Lá se encontram além da mãe de nosso anfitrião, Rabiaa e Ali,
respectivamente, cunhada e irmão de Omar. O nome da moça significa primavera. Provo
harira, a sopa nacional marroquina. Trata-se dum caldo de muita sustância feito
com carne, tutano, lentilha, grão de bico, aletria temperado com diversas
especiarias. Terminada a refeição, passeamos no boulevard La Corniche onde só é
permitido ver o lado externo da Mesquita Hassan II,
construída parcialmente sobre o mar, sendo a segunda maior mesquita do mundo
islâmico. Com seu teto retrátil permite que os fiéis rezem tanto à luz do dia
como sob a luz da lua e das estrelas. No
retorno pra casa, vejo alguns mendigos nas calçadas. E o véu
muçulmano, o hijab,
continua sendo muito usado no país, tanto que Zeina só o retira
quando Raul não se encontra no ape. Como é usual, em qualquer cidade muçulmana,
os minaretes das mesquitas sobressaem entre os prédios, ouvindo-se o
chamamento dos muezins 5 vezes ao dia, convocando às preces os fieis. No
terceiro dia, deixamos Casablanca num confortável ônibus rumo a Marrakech
percorrendo uma excelente autoestrada. Marrakech, a cidade vermelha, assim chamada
pela coloração de suas construções, situa-se no sopé da cordilheira do Alto Atlas.
É a quarta maior cidade do país com cerca de 1 milhão de habitantes. Chegamos à tardinha na cidade
marroquina que mais atrai turistas no Marrocos. A sua parte antiga, conhecida como Medina
ou Almedina é cercada por muralhas com 19 km de perímetro, cujo propósito nos tempos dantanho era de proteger a antiga
cidadela. Classificada como Património Mundial desde 1985, a Medina de
Marraquech abriga o maior mercado (souk) tradicional bérbere, composto por um labirinto
sinuoso de ruas estreitas, muitas delas cobertas por telhados de pedra ou
madeira, exibindo centenas de lojas. Chatos vendedores de rua quase arrastam os
turistas pra visitarem seus bazares...que pentelhagem....socorro Alá!! Aqui, são
vendidos, desde os tradicionais produtos de couro e tapetes bérberes até eletrônicos de última geração. Em algumas
tendas, a estonteante oferta de ervas aromáticas, destacando-se rosa mosqueta,
pedra de granada, canela e macela. A oferta de doces tanto nas
ruas quanto em confeitarias tira a gente do sério. Ali e acolá vendedores em cujos carrinhos espigas de milho assam
em braseiros sempre acesos. Entretanto, um perigo o movimento incessante de motos nas apertadas
ruas sem calçadas da Medina. Os motoristas tiram fininhos impiedosos dos
pedestres. Aliás, os marroquinos não são lá muito bem educados no trânsito
assim como os brasileiros. Além de laranjeiras e bergamoteiras, enfeitam as calçadas das
avenidas centrais, canteiros com pés de roseiras em diversas colorações. De qualquer
ponto da cidade se vê a Mesquita Koutubia, e nos seus arredores, vendedores de
água paramentados com seus trajes típicos oferecem o líquido. Na praça Jamaa
Lafna, coração da Medina, impera o comércio de comidas: tendas de frutas com romãs, caquis, laranjas, bergamotas, maçãs,
melões e manga bem como de frutas secas. Mais adiante, tendas de carnes, peixes e frutos do mar. Competem lado a lado quiosques
de comidas regionais. Se à noite o espetáculo das lamparinas acesas
dispostas no chão da praça é de encher os olhos, durante o dia quem faz a festa
são os macacos e as cobras oferecidos por seus amestradores para tirar foto com os turistas. Embora medrosa, pago pra tirar foto com uma cobra tipo naja. Adorei!! Igualmente, se paga se quiser filmar músicos tocando seus
instrumentos típicos enquanto homens dançam ao som das melodias no interior da roda
formada por turistas e nativos. E contadores de estórias desfiam as façanhas e lendas do povo bérbere. Pena que que eu não entenda patavina da
língua. Disponíveis pra se dar um rolê na cidade há, a duas quadras da praça, caleças
de aluguel conduzidas cada uma por 2 garbosos cavalos enfeitados com flores de
plástico coloridas na cabeça. Estamos hospedados na Medina, num riad que vem a
ser aquela construção árabe com pátios internos em seu interior. Nosso riad
é um hostal bem legal, sendo que os hóspedes, em sua maioria, são jovens oriundos de várias cidades europeias, exceto uns pouquíssimos africanos. De seu terraço, ao final da tarde, dá pra
curtir o canto dos muezins chamando pra penúltima prece enquanto o sol se põe
no ocidente tingindo de rosa a neve acumulada no topo das montanhas do Atlas. Durante
os 5 dias em que permaneci em Marrakesh conheci atrações turísticas super interessantes
como Jardin Majorelle comprado por Ives Saint Laurent e seu companheiro, Pierre
Berger. Restaurado, foi aberto ao público após a morte do casal. No jardim, além duma coleção de cactus trazidos de vários pontos do planeta,
há o interessantíssimo museu bérbere mostrando a cultura deste povo que constitui
70% da população marroquina. Numa das muitas pernadas dentro da Medina, dei de
cara com o maravilhoso Museu de Arte Culinária Marroquina onde, em
duas salas voltadas para um dos jardins, há a exibição de 2 mulheres
demonstrando como se faz cuscus e extração de azeite de oliva. Aqui desfruto um
típico almoço com 3 saladas de entrada: tomate caramelado, pasta de berinjela e
taktouka, mais briwat (tipo de pastel) de vegetais com queijo e sekare. Prato
principal, tajine de frango com confit de limão. Sobremesa, pastilla au lait. Bebida, chá. Uma
observação, o feijão com arroz dos marroquinos é tajine, que pode ser bem
simples, apenas usando legumes e verduras, até os mais sofisticados que levam
carnes e peixes. Perto dali fica a Kasbah, região movimentada, ainda dentro da Medina, pra onde me toco a fim de visitar as Tumbas Saadianas. Neste mausoléu coletivo estão sepultados cerca de 60 membros da dinastia saadiana, que reinou em
Marrocos nos séculos XVI e XVII. Roseiras brancas e arbustos de camélias vermelhas
foram plantados ao pé das sepulturas cavadas no chão, enfeitadas com ladrilhos coloridos. Um lugar
muito tranquilo se se desconsiderar a quantidade de turistas assanhados em
tirar fotos diante dos túmulos. Ainda na Kasbah, passo ao largo da mesquita Moulay
El-Yazid a caminho da Porta Bab Al Agnaou, um imponente portão do
século 12 em forma de ferradura, decorado com inscrições do Alcorão. O último
lugar a ser visitado foi o Jardim Menara, casa construída por 1 sultão para seus
encontros amorosos. Do jardim Menara tem-se uma bela visão das montanhas que abraçam
Marrakech com seus picos ainda nevados nesta época do ano. Deixamos Marrakech, após o natal, porque estamos Raul e eu super a fim de fazer um tour no famoso Sahara....simbora pro deserto!!
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