sábado, 30 de março de 2013

As Brumas da Mantiqueira

Acordada por Will às 5 e 30 para o ataque ao cume dos Marins, verifico com alegria que o tempo está bom!! A lua cheia brilha no céu livrésimo do antipático nuvaredo. Minha noite foi, pode-se dizer, bem dormida. Se se considerar que estou numa barraca, precariamente acomodada sobre um isolante térmico, embrulhada num saco de dormir que tolhe os movimentos, até que dormi bem, sim!! Ainda ensonada, caminho pela trilha que dá no paredão que leva ao cume do Marins. Quando inicio o trepa-pedra que conduz a íngreme rampa, já estou bem acordada. Com um pouco de medo, peço que Willian me dê sua mão. Embora ciente que a boa aderência do granito impede escorregões, meu medo de altura vence o racional. Após vencido este trecho, considerado o crux da via (teve um gordinho do grupo de Ribeirão Preto que não encarou e deu meia-volta), o resto é moleza. Em 30 minutos vencemos os 200 metros que nos separam do cume do Marins. Embora haja uma boa quantidade de nuvens tapando parte da paisagem, dá pra enxergar algo do vale da Paraíba e os picos do Marinzinho e da Pedra Redonda a nossa frente. Do Itaguaré, nenhum vestígio, encoberto pela espessa cortina de nuvens que surge das bandas orientais. Durante a descida, apelido Ivan de Docinho, em razão de seu jeitão tranquilo e maneiras atenciosas. “Tento ser terrível”, comenta, numa evidente blague ao tirano russo, seu homônimo. Enquanto tomamos café, as nuvens dão uma pausa. E, assim, é possível visualizar o contorno pontiagudo do cume do Itaguaré. Mais ao fundo, a serra Fina. Impossível não notar o perfil desigualmente arredondado da Pedra da Mina que se destaca no meio da famosa serrania. Após alguns trepa-pedras exigentes – mesmo assim considero-o mais fácil que o Marins -, às 11, alcançamos o topo do Marinzinho. E  aproveitamos pra laricar. Mastigar algo se faz necessário. Há que se recarregar as energias perdidas na dura pernada. Willian aponta uma trilha no meio do mato. Através dela, diz ele, se chega ao refúgio de Seu Maeda, responsável pela abertura da trilha Marins-Itaguaré. Mais uma vez o nevoeiro se impõe e toma conta do pico dos Marins, escondendo os belos paredões verticais que se projetam de sua extensa crista leste. Como a gente sobe pra descer, após termos culminado o Marinzinho, tem início uma baita descida em direção ao vale que separa a crista do Marinzinho da que ascende à Pedra Redonda. É nesse trecho que se enfrenta um rapelzinho duns 7 m pra desescalar a parede bem verticalizada. Pra tanto, cordas foram previamente instaladas em 2 paradas. E a íngreme descida continua percorrendo uma trilha estreita protegida ora por capim-navalha, ora por bambus, ora por vegetação arbustiva de pequeno porte até o estreito vale onde começa a subida pela crista que nos levará à Pedra Redonda. Paramos para almoçar. Enquanto estamos rangando, três jovens pedem pra se juntar ao nosso grupo. Na trilha fechada pela vegetação, muitas vezes é como surfar num mar de capim. Um casal de irmãos paulistas e um francês, namorado da guria. Quando chegamos ao topo da Pedra Redonda, o aguaceiro desaba sem dó nem piedade. Daí sou obrigada a guardar a máquina na mochila. Não dá 5 minutos e todos estamos molhados que nem pintos. Will que programara o acampamento perto sopé do Itaguaré, decide armar as tendas numa pequena clareira rodeada do alto capinzal. É arriscado, comenta o querido guia, continuar com tal tempo, porque a visibilidade é baixíssima, não vai além de 10 m.Preocupado, alerta sobre os riscos de se caminhar sobre pedras molhadas e, portanto, escorregadias. Agora 15 e 30, abrigada, já vestindo roupas secas, escuto o tamborilar dos pingos da chuva sobre o teto de nylon da barraca. Durmo e sonho o resto da tarde, deliciosamente entocada em minha casa de lona, quando acordo lá pela 18 horas. A comida então nos é servida nas barracas por Natan que traz um PF com arroz, feijão, farofa e tomate. Dessa vez, o querido Will acertou a mão no ranguinho! A chuva dá uma estiada. Aproveito e saio pra esticar as pernas. Vou até a cozinha entregar o prato e o que vejo? Johnny Dogue bem baixado lá dentro. Enroscado ao redor do próprio corpo, nem ergue a cabeça quando o chamo. Só levantará, esclarece Natan, quando a barraca for desarmada amanhã. Que bolaço esse cão!! Willian aparece com uma garrafa de vinho tinto que bebemos no bico, a la piratas, hehehe.  Olho pra cima e o que veja me deixa esperançosa. Pois não é que o céu limpou, revelando zilhões de estrelas?

Um comentário:

Miriam Chaudon disse...

Ainda vamos fazer uma travessia juntas, não é mesmo amiga querida?
Belíssimo lugar! Lindas fotos e ótimos videos para recordar essa travessia.