domingo, 13 de março de 2011

Primeiras impressões sobre a paisagem roraimera

Durante minha permanência no Monte Roraima, está gravada em minha retina um ambiente em preto e branco deveras sombrio. Essa impressão talvez se deva àquela tonalidade acinzentada dum céu atordoado de nuvens. E às esculturais formações rochosas cobertas por espessas crostas de escuros líquenes. Suponho que, mesmo com sol, a paisagem se mantenha sóbria. A chuva miúda, durante os três dias sobre o tepuy, lembrou-me confete, o que conferiu, vá lá, um toque de prateado ao estranho carnaval que desfrutei no alto desse platô descolorido. Emburrado, o céu permaneceu sem dar pinta de seu azul durante os 6 dos 7 dias que percorri as terras venezuelanas. De volta à casa, sinto ganas de ler Lost World, de Conan Doyle. Temo, porém, a influência da palavra certeira do grande contador de estórias. Vá que tente imitá-lo e resulte solamente una pífia versão da indiada por mim protagonizada. Não suportarei a humilhação de tal comparação. E, procurando músicas que sirvam de trilha sonora a certos vídeos que pretendo editar sobre o trek, escolho, casualmente (?), Piazzolla. A melodia derramada, dramática, tem tudo a ver com o desolador cenário roraimero, agora, tão distante, geograficamente, pero freqüentador ainda assíduo de minhas recordações. Salvo alguns laivos coloridos de vegetação que brotam parcimoniosos aqui e acolá, sobressai soberana a infindável sobreposição escura de pedra sobre pedra. Suas superfícies duras e ásperas ao toque remetem às estéreis paixões desfeitas e às intermináveis noites insones amargadas por quem foi mal amado.

2 comentários:

Paulo Roberto - Parofes disse...

Lendo seu texto breve porém preciso, me veio à cabeça uma imagem meio monocromática da paisagem por causa do constante tempo ruim...acertei?

Beatriz disse...

mais ou menos...