terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Rapel do Café

O dia amanhece porreta! Avisto do meu quarto, lá embaixo no vale, uma plantação de arroz coberta por nuvens que rastejam rentes ao capinzal. São seis da manhã e eu bem desperta já estou excitada com meu terceiro canionismo. O primeiro, o do Café, que vou mais uma vez repetir, nem conta porque, à época ainda cheia de medo, Kaloca desceu junto comigo todas as cachoeiras. Com prazer, abro um parêntese pra contar algumas coisas sobre esse praiagrandense da gema a quem admiro demais! Guia formado pela Embratur e monitor da Associação Brasileira de Canionismo já nasceu aventureiro. Suponho que adquiriu o gostinho de rapelar quando de seu nascimento, afinal, desentranhar-se do útero materno deve ter-lhe despertado o fascínio pela altura. Foi, com certeza, seu primeiro canionismo, hehe. E depois disso não mais parou. Escalador, já solou o Cerro Negro, na Argentina quando, frustrado, não alcançou na segunda tentativa o cume do Aconcágua. Persistente, não desiste de chegar ao topo da montanha mais alta da América. Seus olhos risonhos garantem: “eu vou conseguir!!” Tanto que fez uma promessa: deixou o cabelo crescer. Só será cortado quando atingir o topo da montanha. Embora não receba patrocínio algum, se manda estrada afora com recursos próprios. Seu grito de guerra é “quanto pior melhor” enquanto abre um largo sorriso maroto. Não há mau tempo pra Kaloca. Considero-o uma versão masculina de Poliana. Desde que o conheci não contrato senão ele como guia nas minhas andanças através da região. Daí, claro, foi ele quem nos acompanhou durante os 5 dias de nossa permanência em Praia Grande. O escolhido pra nos levar de carro até o ponto da estrada da serra do Faxinal, que dá acesso à primeira cachoeira do Café, foi Luiz Antonio, primo da Maria, um fofo de primeira grandeza! O céu, até então claro, nubla e eu penso cá com meus botões “merda”. Céu cinzento quando se está dentro dum canion dá uma baita má impressão. Tudo fica mais escuro ainda. Imagine você, confinado entre estreitos paredões de rocha basáltica, cuja coloração já, naturalmente, escura, torna-se ainda mais escura, sem o brilho reconfortante do sol e do céu azul. Ai...ai...dá um puta medo, tá ligado?! Nesse canionismo, chamado Rapel do Café, desce-se uma garganta cujo desnível beira os 500 metros. Portanto, não é das mais altas da região. Foi, assim, batizada por Kaloca, em homenagem ao luxuoso café colonial, repleto de quitutes que espera os intrépidos aventureiros ao final da indiada, no sítio de Valmor. As saborosas iguarias reabastecem todas as energias dispendidas durante a prática deste fascinante esporte. Bueno, doze são as cachoeiras cujas alturas variam de 6 a 47 metros. A distância percorrida entre a primeira e a última cachu fica em torno de 1,5 km. Embora pouco extensa a garganta, demora-se em torno de 5 horas pra atravessá-la de ponta a ponta. Eu, entretanto, entro às 10 da manhã e saio às 19 horas. O álibi pra tanta demora é que sou novata, uai! Somente duas cachus foram batizadas. Uma delas é a do Varal, assim chamada, porque, na sua aproximação, há que se descer até uma pequena platibanda onde se fica preso num backup, qual roupa pendurada na corda, pra daí então iniciar os movimentos de descida até o poço situado 25 metros abaixo. Por isso, é considerado um rapel mais técnico. A cachoeira mais difícil, no meu entender, é, contudo, a Sinistra, justamente assim apelidada, porque suas águas escorrem por um brete que impede a passagem dos raios solares. A sua complicadésima aproximação e uma passada exigente duma rocha pra outra faz com que ela seja bem mais técnica que a do Varal. E, aqui, cometo - ala putcha - aquela “barberagem”, típica de iniciantes. Pois não é que me trapalho e fecho as pernas?! Gurias - prestem atenção! -, quando se faz rapel, é necessário deixar as pernas bem a-ber-tas, ouviram?! A imperícia faz com que eu pendule e bata com os costados no duro lajedo. Mais susto que dolorido o pancadão! Ainda bem que não houve fratura porque senão eu iria pagar o maior mico saindo resgatada do canion. Que horror, eu, mais uma vez, envolvida com bombeiros. Nem pensar! Já basta Arequipa!! Mas a Sinistra - não à-toa, foi assim batizada - reserva outra surpresinha após 37 m de descenso. Um pequeno poço obriga que se nade até sua borda de onde é feito novo rapel de modo a enfrentar as turbulentas águas que jorram por um paredão de 10 metros até o solo. Infindável aventura pruma cagona como eu! Brota, então, um medo de que a água me carregue poço afora. Fico paralisada. Peço a Kaloca que estenda a corda. Ele recusa, dizendo que eu tenho de nadar até a borda do poço. Quase choro. Apelo pros meus brios, respiro fundo e resolvo encarar. Pois não é que chego?! Eita Caloca, meu guia e mestre!! Sempre me incentivando!! Um dia, juro, e promessa é dívida, vou rapelar esta Sinistra na buena, sem grandes sobressaltos. Apesar de todo o cagaço, estou tinindo trincando, na ponta dos cascos, louca pra fazer outro canionismo! E que chegue duma vez a hora!

2 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

Oi. Meu nome é Fernando, moro em Praia Grande - SC. Ontem eu o Caloca e mais três amigos descemos as cachoeiras do rappel do café, onde levamos cerca de quatro horas pra concluir o percurso. Apesar de corrido foi show de bola o paseio. Adorei as fotos e o vídeo de vocês. Abraços.