Como a meteorologia prevê chuvas só no feriado de Nossa Senhora Aparecida, saio de Porto, na sexta, por volta das 15 horas. Um acidente, na avenida Castelo Branco, saída da cidade pro litoral, deixa o trânsito trivagaroso, naquela de engata 1ª e freia o carro. Um saco o congestionamento. Dura 40 minutos. Haja paciência!! Véspera de feriado, o fluxo de carros é maior que o usual. Como não tenho pressa de chegar, dirijo com cuidado, não ultrapassando os 100 km permitidos na free way. Próximo de Xangrilá, vejo outro acidente na estrada do mar – RS 389 – envolvendo dois carros. Meu deus, como está gente é imprudente. Estão sempre apressadíssimos, como se quisessem salvar a mãe da forca!! Estragam o feriado na ânsia de encurtar o trajeto em 15 ou 20 minutos. Chego a Praia Grande e dou uma paradinha na cabana de Kaloca pra combinar nossos passeios. Depois tomo o rumo da pousada Colina da Serra onde encontro Mariazinha solita, sem seu maridão. Pauleca foi ao casamento dum sobrinho em Floripa. Ela prepara, rapidamente, uns bifes acebolados, uma salada de alface, arroz e feijão. De sobremes, mação em calda. Supimpa refeição! Jogamos, depois da janta, o mexe-mexe, um jogo de cartas bem interessante. Ganho duas partidas e deixamos a negra pro dia seguinte. Estou cansada e tenho de acordar cedíssimo. Sábado amanhece nublado o que não me incomoda. Frio não está e isso é o que importa. Às 6 e 30 passamos pra pegar Kaloca. Maria nos leva de carro até o ponto onde a trilha começa. Uma pequena caminhada na matinha nebular, com árvores de pequeno porte, cobertas de barba de bode, e logo alcançamos a parede norte do Orbal onde se localiza a primeira cachoeira da via secundária dessa garganta. Com 20 m, é uma barbada a descida pelo paredão liso e vertical. Caminho com cuidado até a segunda cachu porque as rochas estão molhadas e resvaladiças. Ainda bem que a distância é pequena. Quando começo a descê-la, me dá um frio na barriga. Seus 50 m impõem respeito. Trato de me acalmar. Apesar da altura, sua rapelagem não oferece maiores problemas porque é uma cachu negativa. Basta dar mais ou menos corda e eis controlada a velocidade da descida. Prefiro segurar a corda enquanto desço. Meus pés balançam no ar e o meu corpo gira 180º. Estranha sensação essa! Pendurada tal qual um marionete. Um corpo flutuando no ar preso por cordéis. Mais uma pequena caminhada até a terceira queda, um longo tobogã com 60 m, feito em três lances. Deliciosa sua rapelagem. Curto demais enquanto vou dando corda. Paro durante a descida e filmo, usando, pela primeira vez, minha Olympus à prova d’água. As demais cachus, próximas umas das outras, evitam o esforço da dura caminhada sobre as pedras escorregadias. No canionismo, o fácil, via de regra, é a rapelagem das cachoeiras. Mão de obra mesmo é a caminhada sobre o leito do rio. Exige equilíbrio a pisada nas pedras. E quando elas se encontram molhadas - como hoje -, a coisa se complica. Eu, cheia de receios de escorregar e me estabacar no terreno irregular e crivado de rochas cujas arestas são bem afiadas, apelo, muitas vezes, pro esquibunda, o que torna mais cansativa a “caminhada”. Meu equilíbrio não é lá dos melhores, reconheço! A quarta cachu tem, se tanto, uns 10 m. Venço-a facilmente. A quinta, hehehe, é ridícula com seus 5 m. Sem comentários. Até então, a ancoragem vem sendo feita nas árvores. Eu, sempre desconfiada, cada vez que inicio os procedimentos de rapel, indago de Kaloca, com uma voz esganiçada, se elas são firmes. Ele, com sua verve habitual, me tranqüiliza: “Biazinha, se tu cair, cai a árvore e eu juntos contigo, não vamos te deixar na mão!!”. É o que basta pra eu relaxar. Esse Kaloca!! A sexta, com seus 35 m, exibe uma ancoragem com dois grampos P fixados na rocha. Nesse ponto da via, enxerga-se o paredão do cânion. Mais adiante Praia Grande com grandes extensões de terrenos alagados causados pelo chuvaral que castiga a região há bem uns 4 meses. A sétima cachu, com 50 m, é perrenguenta pra caramba. Dá trabalho a danada. Enormes blocos de rocha dificultam a rapelagem. Já em terra firme, à direita, a via do vértice principal, onde fiz canionismo ano passado, desemboca na via onde estamos. A vegetação pluvial de mata atlântica é exuberante. Muito musgo revestindo as rochas. Bromélias rosa e azul, penduradas nos galhos e arbustos, quebram o predomínio do verde da vegetação. Cogumelos amarelados grudam-se em troncos de árvores caídas sobre o leito do rio. Uma beleza de visual. Cascatinhas encantadoras me fazem estacar a todo momento. Paro e saco a máquina pra filmar toda essa exuberância. A oitava cachoeira, com 30 m, não apresenta declive acentuado. Está mais pra rampa. A ancoragem continua sendo num tronco de árvore. No seu final, um pequeno poço raso. A nona cachoeira apresenta um declive mais suave que a anterior, porém seu poço é mais fundo. A aproximação entre as cachus, até então curta, agora é bem mais longa. Dura coisa duma hora a caminhada até a décima. Rapelar esta cachu de 25 m, cheia de degraus, é moleza. A décima-primeira e última cachu com 30 m apresenta certa dificuldade. Desce-se pela direita percorrendo uma pequena canaleta. Na metade da vertente, um degrauzão obriga a uma travessia pro seu lado esquerdo. Requer alguma habilidade. Se sol houvesse - o tempo permanece, entretanto, emburrado -, eu teria mergulhado em seu poço. Embora raso, dá pra se espojar em suas águas límpidas. Quando terminamos, telefono pra Maria e ela vai nos buscar na Vila Rosa. Deixamos Kaloca em sua casa e vamos pra pousada. Uma jantinha com uma saborosa carne de panela e uma partidinha de mexe-mexe nos entretêm até a chegada de Mara, sobrinha de Maria, seu marido Luis Antonio e Gustavo, o filho do casal. Cansadíssima, bato um papinho curto e vou pra cabana. Morfeu acena, seu dedão, imperioso. O domingo surpreende: um sol lindo, artigo de luxo nesses últimos tempos! E um baita calor. O programa hoje são algumas cascatas desconhecidas da Magia das Águas. Dessa feita, Rejane, namorada de Kaloca, nos acompanha. Marinheira de primeira viagem, Rê está assustada. A primeira queda é qualquer coisa de fácil com seus 5 m de pura diversão. Pelo menos pra mim. A segunda com 10 m também é moleza, emendando num bretezinho de 8 m de declive com confortáveis degraus. Uma beleza. Enquanto observo Rejane descendo, recordo de meus primeiros rapéis, tão medrosa e desajeitada quanto ela. Kaloca acompanha-a, orientando-a na descida. Não dá mole pro medo da namorada. Coitada! Comigo ele tem mais paciência. Também pudera, eu sou cliente, hehehe. A quarta cachu, embora tenha 30 m, forma belos e largos degraus. Somente seu início, apresenta alguma dificuldade, pois um resvaladiço paredão vertical, duns 3 m, requer um certo cuidado. Já a quinta é mais técnica porque seu desenho vertical exige bastante atenção pra descer seus 30 m. Por fim, os 10 m da sexta queda são tranquilitos demais. Foi tudo muito rápido. Em três horas, terminamos nosso cascade (nem dá pra se considerar canionismo essa rota alternativa da Magia das Águas!), e subimos o morro punk até a pousada. Kaloca, já na moto, com Rejane, na garupa, agarrada em sua cintura, tomam o rumo de casa. Encontro Maria, Luis, Mara e Gustavo sentados à sombra, curtindo o mormaço da tarde domingueira. Com ar preguiçoso, suas pálbebras pendem, a meio pau, sonolentas. Também pudera, não faz muito almoçaram. Passo a tarde batendo papo com Luis e Gustavo. Luis permite que o filho dê umas voltinhas no páteo da pousada. Embora tenha apenas 14 anos, sabe dirigir e muito bem! Entende tudo de carro, dá de 10 a zero em mim. Ao anoitecer, o tempo muda e uma chuva de molhar bobo se estende até o dia seguinte. Impossível fazer qualquer coisa nesta segunda-feira, dia da padroeira do Brasil. A não ser rezar. Apesar de católica, sou nem um pouco praticante desta fé, de modo que vou em busca de meu desjejum. Luis e Mara, uma pena, tem de retornar a Sombrio. Entretanto, meu amiguinho sabe-tudo-de carro fica.........ebaaa!!! Convido-o pra dar uma banda em Praia Grande. A chuva continua. Ele me dá dicas sobre direção. Uma gracinha de guri! Almoçamos e vou pra cabana ler um pouco. À tarde, levo Maria na manicure e aproveito pra visitar algumas pessoas. Ao lado, no banco de passageiros, meu fiel escudeiro, Guga, com seu semblante sério, compenetrado. À tardinha, retornamos os três pra pousada e o tempo começa a melhorar. À noite, quando vou pra cabana, o céu, estrelado, anuncia bom tempo. Não dá outra. Terça-feira, quando saio de Praia Grande, a manhã está esplêndida! Um solzão brilha no céu sem nuvens. Pena que eu tenha de retornar, mas, porém, todavia, contudo, entretanto, o dever me chama na chincha, snif, snif! Hasta la vista, Praia Grande!!
Um comentário:
Mas você gosta mesmo de cachoeiras! rs
Precisamos, eu e meu parceiro, dar um pulo aí no sul para fazermos algumas rapeladas como estas!
Belíssimas fotos, e muito legal a publicação no altamontanha!
Neste mesmo feriado fiquei ocupado guiando clientes na travessia petro-terê, foi o máximo! Coloquei algumas fotos no blog hoje!
Parabéns mais uma vez e até!
(belo almoço hein, me deu fome pra almoçar de novo kkkkk)
Abraços
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