Acordo a uma da madruga com o
maior chuvaral. Inacreditável! Dois lindos dias com céu azul de brigadeiro, ouro sobre prata, e agora esse fiasco climático! Francamente, hein, São Pedro,
podia ter deixado o mau humor pra amanhã, segunda-feira, né?! Pra variar, tô com a maior vontade
de fazer xixi. Dou um tempo, me apertando toda dentro do saco de dormir, na
esperança de que a chuva dê uma estiada. Quando percebo que o tamborilar dos
pingos não soa mais que nem surdo na lona da barraca, saio e deixo a urina,
até então cruelmente represada dentro de minha bexiga, jorrar, enquanto solto
ahs de prazeroso alívio. Sensação comparável a de um bom orgasmo. Quando volto a
acordar, de manhãzinha, dou de cara com o céu enfarruscado, sem sinal porém de
chuva. O tom melancólico do dia é fortalecido pela ciência de que hoje é a
finalera da pernada....sniiiiffff. Encontro os guris preparando o café, servindo a seguir um chima (aqui em Minas, é o contrário, hehe) para dar aquela energia à caminhada.
Quando ontem, Rodolfo surgiu com o chimarrão no café da manhã, intrigada, indaguei donde
ele adquirira tal hábito. Ele explicou que tem um pé no Rio Grande do Sul pois a mãe
é de Sta Maria. Mundão pequeno sem fronteiras esse, oigatê! Passamos a cuia de
mão em mão, esticando a conversa, de modo a fazê-la render até o início da pernada,
hoje curtésima, não mais que 2 horas. Merda de tempo fodido, estragou nosso
plano: tomaríamos aquele banhão no rio e depois retomaríamos a andança, devidamente,
refrescados. Outro aguaceiro nos afugenta pra dentro das barracas. Aproveito e continuo
a leitura do surpreendente Headhunters, policial magistralmente escrito pelo norueguês
Jo Nesbo. Às 11 e 30, com o aguaceiro reduzido a uma poeira aquosa, Rodolfo dá o
toque de levantar acampamento. Thomas irá nos resgatar
às 14 horas num ponto do município de Alagoa. Urge que partamos, sem tardança. Ai que saco, que perda de tempo a ampla capa de
borracha, tipo às que são usadas por pescadores, que visto quando partimos. A tal garoa não dura nem 20 minutos. Ao passar pela sede administrativa do
Parque Estadual Serra do Papagaio, paramos prum dedo de prosa com um dos guarda-parques que lá se encontra.
Senhorzinho entrado nos anos, ele concorda conosco quando chamamos a atenção pra grande ajuda prestada pelos guias na conservação e preservação da natureza. No horário aprazado, o falante
Thomas está a postos nos esperando no local combinado. Sobressai, na paisagem, a pequena serra de Santo
Agostinho e seu pico do Garrafão. Pelos meus cálculos, a distância percorrida - mais ou menos, é claro, - nos 3 dias de pernada foi em torno de 35 km. Voltamos a Passa4 onde chegamos no meio do domingão. Fico de bobeira, no casarão, arrumando minhas coisas. Amanhã, tenho de reiniciar meu
movimento de retorno ao Sul. Meus planos iniciais previam, além do trek na
trilha do Segredo, a ascensão ao Itaguaré que eu não conseguira culminar quando
estivera, aqui na Páscoa, socando a bota na desafiante travessia Marins-Itaguaré.
Com tempo chuvoso, mas chuvoso mesmo, castigando a pernada durante os 2 últimos
dias de trek, Willian nosso guia, resolveu, a bem da segurança, abortar a
subida ao cume faltando apenasmente uns 200 m pra atingi-lo. Fiquei com a tal síndrome
da frustração, daí por que fiz questão de incluí-lo mais uma vez neste rolê na
Mantiqueira. Infelizmente, em razão de dores no ciático, sou obrigada a desistir
de subi-lo (te pego, ai se te pego, Itaguaré, hehe). Olha, tenho abusão ao tal
bordão “a montanha tá ali, não vai fugir”. Esse tipo de consolo não cola muito
comigo. Mas tenho de reconhecer que, de fato, essas pedrocas não se movem tão
facilmente, não, hehehe!! À noite, diante da deserção de nossos guias - Willian
se mandando com sua Josi pro chatô deles (por que será que recém-casado só quer
ficar em casa hein?), e Rodolfo só querendo saber de curtir filme com Tao, seu
pimpolho - eu e Zé Natureza decidimos jantar no restaurante Seis e Meia,
especializado em truta. Uma delícia os pratos por nós escolhidos. De pancinha saciada, quando volto pra pousada, não demoro nadica a pegar no sono de tão empaturrada. Dia
seguinte, segundona, começa minha volta, despacito no más, em direção ao Sul. Mais uma vez,
faço um pit stop de 2 dias em Campinas. Tão boa voltar a curtir a vibe gostosa da casa de Patricia.
Se tivesse que escolher outra casa pra morar, com certeza, seria a dessa minha queridésima
prima-irmã. Na quarta-feira, outra parada em Curitiba, alugando novamente o
sofá na casa de Fatima. E pra variar, dessa feita, derrubamos só 3 garrafas de
vinho (não pretendo tão cedo retornar a casa de minha amiga, o que se bebe lá é
pra gente grande, hehe). Na quinta-feira, quase na fronteira do Rio Grande, resolvo,
dar uma esticada em Praia Grande. Faz horas que não vejo minha querida
Mariolinda. E Mariana, aquela Selau mimadésima, tá grávida! Tenho de vê-la barriguda de sua Isabela. Na
sexta-feira, dia 4, chego triufante, gargalhando feliz da vida, em Portinho
depois de ter percorrido em segurança 3.000 km!! Uhuuuuuu
Pretendo com este blog descrever viagens que fiz e farei por este tão lindo planeta, resgatando da memória as impressões armazenadas, algumas já esmaecidas pelo tempo, outras prudentemente registradas pelo olho mágico das lembranças fotográficas.
domingo, 29 de setembro de 2013
sábado, 28 de setembro de 2013
Acupunturando a Mantiqueira
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Mantiqueirando
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Do Sul ao Sudeste
Saio
de Porto às 23 e 30 de quinta-feira, pernoitando em Torres, num hotel à beira
da BR 101. É minha primeira grande viagem dirigindo euzinha - sozinha - meu carro. Estou numa empolgação que mantém a adrenalina lá em cima...adoro tal sensação!! Na
sexta-feira, perocorro, com chuva, às vezes forte, todo o estado de Santa Catarina. Só estia o chuvaral quando
entro no Paraná. De São José dos Pinhais, uma espécie de Canoas dos paranaenses,
à casa de Fatima, em Curitiba, levo 2 horas – isso mesmo - 2 horas porque o
trânsito neste horário – 18 horas – é de fuder de muvucado!! Afora isso, o GPS mais me confunde que
ajuda...uma merda!! Telefono pra Pece
quando estou quase chegando e combinamos de ele me buscar na casa de Fatima pra
jantarmos juntos. Vamos então, eu, Pece e Fernanda, sua namorada, ao Pamphylia,
tradicional restaurante curitibano situado no Batel. Retorno a casa de Fatima
e já a encontro em casa. Comemoramos o reencontro bebendo 3 garrafas de vinho
(e eu já partilhara, no restaurante, uma garrafa com o casal de amigos!). Dia seguinte, acordo me
sentindo um pouco ressaqueada, o que não me impede de pedalar com Fatima e
Jamila até o mercado municipal onde almoçamos. Como pouco porque já começo a sentir certo mal estar que vai se agravando mais e mais ao ponto de eu ir 3 vezes ao
banheiro pra vomitar tão mal me sinto. Quando começo a pedalar me sinto melhor,
mas a chuva reinicia (havia caído um pancadão durante o almoço), o que nos
obriga a voltar pra casa. E o mal-estar volta com força total quando me deito
no sofá pra assistir a um filme com Jamila enquanto Fatima estuda pra 2ª fase
da prova da OAB. Mais uma vez – a 4ª! – volto a vomitar, dessa vez pra pôr pra
fora os últimos vestígios do almoço. Só consigo me recuperar lá pelas 23
horas....que horror!! Nunca mais quero beber tanto...saravá! Domingo, Curitiba continua debaixo do mal tempo.
Chove a beça. Aproveito uma brecha no chuvaral e pego a estrada novamente.
Fatima, uma fofa, me guia até a Regis Bittencourt. E a chuva volta a apertar. A
rodovia, na saída de Curitiba, em péssimas condições de trafegabilidade, exibe
buracos e desníveis que formam lâminas de água perigosíssimas. Não dá outra:
quase aquaplano o carro. Por sorte, sempre aciono o 4x4 da camionete quando o
tempo está chuvoso. O que me salva duma derrapagem talvez fatal. O carro valsa
um pouco, mas segura legal o tranco, apesar do tanto de água sob os pneus. Se
eu tivesse perdido o controle, teria chocado com o caminhão que estava
ultrapassando. E não estaria aqui contando a viagem. A chuva não dá trégua, cai
água de balde do céu. Vejo 2 carros capotados. Um deles está tão detonado que
não deve ter sobrado ninguém vivo. Quando mais tarde paro pra comer algo, um
caminhoneiro com quem converso enquanto bebo um café, conta que o casal do tal
carro capotado escapou na boa do acidente. Deus do céu, muita imprudência nas
estradas, demais!! Tem motora que não diminui a velocidade mesmo que chova
canivete. O trecho da Regis Bittencourt, localizado na belíssima serra do
Cafezal, além de perigosíssimo porque cheio de curvas e buracos tem só uma
pista. O trânsito se torna lentíssimo então. O que poderia ser feito
prudentemente em 1 hora demora 2!!! E a chuva continua implacavelmente.
Estou um tantinho ansiosa com a passagem pelo rodoanel Mario Covas, elo viário
entre a Regis Bittencourt e a Bandeirantes. Contudo, me saio muito bem (até
dispenso o GPS) porque as saídas são muito bem sinalizadas. Chego a Campinas em
torno das 19 e 30, após 8 horas de viagem. Minha lombar doi, não só de ter
ficado sentada tanto tempo quanto da tensão em dirigir. No trecho final, já na rodovia
Dom Pedro I, Patricia, a quem contato pelo celular, é quem me serve de GPS,
muito mais confiável que esta moderna bússola. Curto demais a casa dessa minha
querida prima-irmã, onde me sinto quase tão à vontade quanto na minha. Exceto
na segunda à tardinha, quando corro na Unicamp, os dois dias em que permaneço
em Campinas, faço da sala da TV meu quarto. Bem baixada no confortável sofazão,
assisto, numa maratona frenética, a 4ª e 5ª temporadas do badaladíssimo seriado
Breaking Bad. Ah, e o que são os deliciosos almocinhos preparados por Patricia?
No almoço, apenas carnes e saladas. Carboidratos são reservados para o
lanchinho da noite, hehehe!!! Na quarta-feira, infelizmente, tanta mordomia tem
um fim. Preciso partir pra Passa4. Minha prima me conduz até a D. Pedro. Os 132
km rodados nesta excelente rodovia são um prazer. Um baita sol ilumina com
vigor a manhã. Ainda bem, porque desde sexta-feira só o cinza tem dado pinta no
céu. Me confundo um pouco - tudo culpa dessa merda de GPS!! – pra pegar a Dutra.
Graças aos nativos e às placas chego em Passa4, mais exatamente à pousada
Harpia onde vou me hospedar durante minha estadia aqui. Willian, o príncipe das
Terras Altas da Mantiqueira, um dos guias da agência Harpia, me recebe com
aquela mineiríssima afabilidade. Pouca demora, prepara café preto no fogão a
lenha instalado na espaçosa cozinha do casarão. O vento forte me faz desistir de
dar uma corridinha. Fico então de prosa com Will e Josi. À noite, enquanto
degusto uma cachacinha – de lamber os beiços tão boa é - envelhecida em barril
de umburana, indago de Rodolfo detalhes da travessia que me motivou a vir de
tão longe.
Grata surpresa me reservam esses dois guris!! A pernada na serra do
Papagaio, comumente feita no sentido leste-oeste ou vice-versa, será no sentido
norte-sul, trilhando lugares pouquíssimos frequentados....ebaaa!!!! Acordo na
quinta e o vento continua bufando forte, tanto que a vegetação não pára de
dançar. E o que é esse frio? Até parece o Rio Grande do Sul esta terra, uai!!
Um belo café da manhã me espera na cozinha. Dou um rolê de 22 km
pedalando minha magrelinha verde-amarela (trouxe ela no suporte traseiro do carro, sim senhor!!) ao longo da
antiga ferrovia da Mantiqueira com Willian. Após, almocinho de comida super caseira
na Dª Filhinha, seguido dum café na única chocolateria da cidade, repleta de guloseimas. Zé Natureza
chega à tardinha. Muitos papos na cozinha e a adrenalina correndo nas veias na
expectativa da indiada que nos aguarda amanhã. Trilha do Segredo, olha eu
chegando........ebaaaa!!!
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